terça-feira, 8 de setembro de 2009

Coma.

Ele não queria que aquilo acontecesse ! Estava louco para acordar daquele terrível pesadelo , mas não conseguia . Para todo o lado que olhava ele via o pior . O corpo de sua mãe ali , imóvel como uma pedra gigante , banhado em sangue fresco . Nada poderia ser pior , perder a única pessoa que ainda o defendia e o roubava respeito . As lágrimas ensopavam a camisa de tamanho grande e de cor verde . Logo o verde , esta cor que lhe trazia a natureza ; esta natureza , que trazia as lindas faces da maior amiga . A mesma que estava ali , caída ao solo , imóvel . Bem na sua frente . Era o fim da sua vida , morrer é preciso - pensava .
Morreu por alguns instantes no seio de sua mãe , sem sentir a sua respiração . Desabou sobre o corpo dela e sujou - se com o seu sangue . Sentiu o seu coração completamente parado e sofreu como nunca . Gritava em silêncio : " Mãe , estou aqui ! Não pode ser , o sangue do meu sangue ! " Aquilo havia de passar , mesmo que a ferida aberta jamais cicatrizasse . Perder uma mãe não era como perder um milhão de reais , e ele sabia disso . Disso e de mais um pouco .
Na verdade , ele não tinha mais nada a perder . O seu corpo ficou , mas a sua alma e a sua felicidade foram embora naquela noite de sexta - feira . Naquela noite em que duas balas atingiram o peito de sua mãe e a fizeram falecer . Foi isso , o fim .
Mesmo vagando solitário por noites e dias consecutivos pelas ruas e praças do bairro , ele sentia que alguém o acompanhava . Sentia , de vez em quando , calafrios que chegavam a arrepiar o cabelo todo . Quando pensava em se tratar de sua mãe , ficava tomado por uma euforia capaz até de o fazer sorrir . E sorria , sempre tentando a observar . A única maneira de a encontrar era fazendo - a reviver por meio de fotos . E estas tinham de monte , uma mais bonita e brilhante do que a outra . Era uma maneira de escapar da solidão ! Era uma maneira de sobreviver com este imenso câncer que o corroía .
No entanto , um dia de sábado ensolarado trouxe a sua vida de volta . A alegria havia penetrado no quarto 57 do hospital onde ele estava internado , fazia dois meses e meio . Uma mulher de vestidos compridos foi a primeira a entrar no quarto . Carregava um pequena bandeja onde havia um discreto lanche .Era o seu café da manhã que chegava . Pelas mãos de quem ? Dela mesmo , sem visões ou ilusões : a sua própria mãe . Em carne e osso , a sua mãe . Ela lançou - lhe um bonito sorriso e perguntou - lhe : oi meu filho , estás me vendo ? Mais uma vez ele chorou . Ergueu a mão esquerda e lançou - a na direção dela . Ela a beijou com paixão , e ele percebeu o que estava acontecendo : havia saído do coma . Começava a reviver !

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