sábado, 23 de abril de 2011

O meu amigo do Threbyano .

O primeiro emprego de nossas vidas a gente jamais esquece e comigo não poderia ser diferente . Não era exatamente a função de Garçom , mas um verdadeiro auxiliar de serviços gerais . Fazia de tudo um pouco . O restaurante chamava – se Threbyano e ficava situado entre a Vicente da Fontoura e a Santa Cecília , na Rua Dona Eugênia , aqui em Porto Alegre .

Em finais dos anos 90 , recebíamos um público bem variado , desde trabalhadores que atuavam nas proximidades do estabelecimento até moradores que cultuavam as refeições caseiras servidas diariamente . Como o gosto e a simpatia sempre são coisas pessoais , alguns clientes demonstravam laços mais estreitos de afinidade ; outros , no entanto , mereciam um atendimento mais cauteloso .

O restaurante abria todos os dias , inclusive nos sábados e nos domingos . Mas nos domingos , não estava previsto no meu contrato o exercício das funções . Acontece que , na vida , não temos escolhas e precisamos ceder para que um dia os outros também cedam por nós . Neste contexto , aceitei receber uma graninha extra e fui trabalhar no domingo .

Acordei cedo , como de costume , e coloquei o meu velho estilo de vestir e caminhei até o Threbyano . Nos bastidores , absorvi as batidas do sino da igreja Santa Cecília , que anunciavam mais uma missa das dez . Os fiéis chegavam e , após a missa , muitos almoçavam com a gente . Não era o caso de um família que , não raramente , aparecia também nos dias de semana para almoçar .

A família era composta de três pessoas ; pai , mãe e filha . Linhas acima , eu falava de afinidades . Tudo o que não faltava para esta família : carisma e simpatia . Aí não fica difícil construir uma afinidade sólida com famílias como essa . Confesso que durante os anos em que trabalhei no Threbyano , e não foram poucos , dificilmente eu mantinha uma relação tão boa com os clientes como essa . Lembro que o meu amigo sempre trazia a sua cervejinha ( Quer dizer , eram sempre três latas de cerveja de marca exclusiva ) e pedia que eu a guardasse na geladeira . Conversávamos sobre tudo : vida , política , policia , futebol e outros assuntos . Apesar de estar sempre correndo para atender os outros clientes , sempre uma passagem pela mesa da família se transformava em uma rápida conversa . Isso me agradava muito , hoje já não converso tanto e sinto saudades .

Tempos depois , quando nem trabalhava mais no Threbyano , fui convidado para tirar as férias do rapaz que havia entrado no meu lugar . O velhos clientes estavam lá , muitos revelando saudades e muitos reclamando , como de costume . Mas estavam lá , todos , inclusive a família do meu amigo .

Agora era diferente , aquela grande família já não aparecia com freqüência ; aquela família estava diminuindo . Sim , porque somente a esposa e a filha foram almoçar , num dia de semana . Mas meu amigo não estava . Achei estranho , mas tentei não demonstrar preocupação . Diriji –me até a mesa para atendê – las e perguntar sobre o meu amigo . Nem deu tempo de dizer , a esposa me informou que ele havia morrido há alguns meses . Sua voz ainda me provoca lágrimas interiores : “o teu amigo não vem mais , o teu amigo faleceu” . O meu amigo do Threbyano não está mais entre nós , mas sempre estará dentro do meu coração , junto de sua linda família .

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