terça-feira, 12 de julho de 2011

O cara da esquina !

Um moreno magricela vivia escondido atrás de um poste de luz , bem na subidinha da vila . As pessoas não o conheciam , e passavam olhando de soslaio – um tanto desconfiadas . As meninas , então , nem tecer comentários sobre o rapaz que ali se encontrava . O fato era que ele estava sempre ali , noite ou dia , no mesmo lugar .

Alguns vizinhos diziam que o tal magricela fitava sempre o mesmo lugar – olhando a todo o momento para a mesma direção . Como seria possível uma coisa destas , pensavam as mulheres de mais idade ; que moravam na redondeza .

O tempo foi passando e já completava uma semana que o cara da esquina estava ali . Dona Arminda , já desprovida da menor paciência , resmungou a sua neta , a Armênia : “Quem sabe não perguntamos a este homem sobre sua vida ? Precisamos saber de quem se trata ! Pode até ser um marginal que se esconde da polícia ! ”

A neta , sem muita empolgação : “Vó , quem sabe não cuidamos da nossa vida ; que , por sinal , já anda bem complicada !”

Armênia referia – se ao armazém que pertencia a sua vó e no qual ela exercia a tarefa de caixa . O tal “buteco” , como muitos clientes chamavam , encontrava – se de frente para a esquina . Quem entrasse pela porta e resolvesse dar uma olhadinha para trás , dava de cara com o poste onde estava o cara da esquina . As vendas estavam caindo e a freguesia se afastava cada vez mais . Não havia notícias da chegada de concorrentes ao bairro . Diógenes , um menino de 19 anos que era colega de trabalho de Armênia , insistia no fato de que a presença do cara da esquina poderia estar afetando o desempenho das vendas . Alegava que “as pessoas estão com medo de passar por esta esquina ! O que acontece ? Todos vão comprar em um lugar onde não precisa passar por este cara ! É simples , só não vê quem não quer !”

Diógenes também mostrava – se preocupado , até porque - se o armazém fechasse as portas - não teria emprego para sustentar as suas churrascadas e bebedeiras . Resolveu “entrar na mente” de Armênia para que ela tomasse uma atitude . Então ela resolveu que na manhã de uma sexta – feira resolveria o problema . A sexta – feira chegou , e era cedo da manhã – antes de abrir o “buteco” :

“Olá amigo , tudo bem ? Como se chama ?” Armênia visivelmente nervosa .

O silencio do cara da esquina , que usava um chapéu escuro e uma barba rasa , começou a deixar Armênia apavorada . Mais uma tentativa ; porém , com um tom de voz um pouco mais grave :

“O gato comeu a sua língua , por um acaso ? Por que não responde o que lhe pergunto ?”

Mais uma vez o silêncio do homem da esquina contrastava com a falta de paciência de Armênia . Enquanto isso , Diógenes ficava em completo silêncio , no outro lado da rua , com a chave do “buteco” na mão direita . A atitude final da neta de dona Arminda foi surpreendente : chamou a polícia para levar o cara da esquina , que agora tornara – se suspeito . Ora , suspeito de quê ? Ninguém sabia .

As contas foram vencendo e o “buteco” não conseguia se reerguer . As dívidas com fornecedores não cessavam de aumentar . Diante desta situação insustentável , dona Arminda resolve vender o armazém . Faz um ótimo negócio e consegue se livrar das dívidas .

O novo proprietário resolve continuar trabalhando com Diógenes , mas resolve dispensar os serviços de Armênia . Investe bastante dinheiro e consegue atrair a clientela de volta . Dona Arminda passa a virar sacoleira ; enquanto a sua neta , sucateira .

No mercado , um novo empresário se projeta : um homem que já traz na bagagem e experiência de trabalho com cinco restaurantes e mais de sete pontos de comércio . Não ficou preso nem duas horas , pois deu o seu depoimento e foi liberado . Um grande empresário : o cara da esquina !

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