João era mais um cidadão brasileiro . Trabalhava mais
do que descansava e pagava muito mais imposto do que se divertia com o seu
salário de R$ de 800,00 que recebia ao mês . Até aqui não parece haver
novidades , uma vez que os empregados são destinados a ceder a sua mão-de-obra
por um pequeno salário ; que muitos dos administradores , alienadamente , ainda
acham elevados demais .
Pois bem , certo é que , de uns dias pra cá , João
começou a mostrar – se insatisfeito com a sua situação e a situação de muitos
dos seus colegas de empresa . Pensava que todos deveriam se unir para que
conseguissem ser ouvidos e ver a suas reivindicações atendidas . Então se
uniram .
A primeira conquista foi uma reunião com o chefe de
Administração . Vejam bem leitores : João não gostava de definir uma pessoa qualquer
como administradora , a não ser que ela ,
legitimamente , merecesse carregar esta denominação . Para ele , administrar uma empresa era ir
muito além de recursos econômicos . Administrar , de verdade , era para pessoas
nobres e capacitadas .
Então , chega o grande dia e João entra na sala ,
onde o Chefe Administrativo o espera sem um menor sorriso no rosto , levando à
boca uma grande xícara de café . Começamos fazendo uma análise inicial de uma
farsa de administrador : não foi capaz de oferecer um café ao seu funcionário !
João permaneceu a seco durante toda a reunião , este foi o nosso primeiro
aspecto .
Vamos à segunda análise : João argumentava das
distribuições de tarefas e das injustiças que estavam acontecendo dentro da
empresa :
_ Mas , senhor , tem gente que está trabalhando muito
bem e não está recebendo um reconhecimento ; enquanto , por outro lado ,
pessoas desprovidas de tanta eficiência estão sendo muito bem percebidas !
O C.A. ensaia uma grande enrolação e finaliza a sua
fala com o argumento mais comum , único e sem conteúdo de muitos
administradores ( ou não ) atuais :
_ O que posso dizer é que a porta está aberta para
quem quiser ir para casa ! Quem não estiver satisfeito , que vá embora ! João
absorve a resposta e inicia a sua reflexão .
Realmente impressiona a falta de humanismo com que as
empresas atuais estão se configurando no mercado . A quem está no comando não
interessa quem é o funcionário , de onde vem e as suas principais qualidades !
João percebia o fato de que o capitalismo tende a transformar os trabalhadores
em meros objetos descartáveis . E é isso
que os grandes “administradores” da atualidade fazem ! É assim que pensam ! Então
, resolveu lançar uma última questão :
_ O senhor poderia , pelo menos , tentar um reajuste
para a nossa categoria , pois muitas outras já receberam , mas a de Serviços
Gerais ainda não !
O C.A larga a xícara vazia sobre a mesa e utiliza um
timbre elevado de voz :
_ Parece que não fui bem claro , João : quem não
estiver satisfeito , que pegue suas coisas e vá embora ! Aposto , meu amiguinho
, se eu colocar um anúncio de emprego , na sua vaga , no jornal , a fila vai
dobrar o quarteirão inteiro ! João saiu da sala agradecendo a oportunidade .
Em síntese , João percebeu que os três argumentos
utilizados pelo C.A foram os mesmos : quem não estiver satisfeito ...! Percebeu
também que estava certo ao definir que um administrador não poderia ser
qualquer pessoa . Realmente , tinha de ser um profissional que conseguisse
resolver os problemas humanos que estão envolvidos em uma relação de trabalho .
Entendia que perceber apenas questões financeiras na relação chefe/funcionário
é apenas para uma pessoa sem os menores princípios morais e que utiliza formas
arcaicas para desenvolver suas atividades diárias . João , pessimista quanto ao
futuro da empresa , passou direto no setor de RH e pediu demissão .
No dia posterior ao acontecido , incrivelmente , o
C.A fica sabendo da demissão de João e questiona : mas , como assim ?
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