sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

O pastor que a rua conhece ...


Pois que os boatos se espalhavam pela rua e o pastor vivia a encher a boca para dizer que “a voz do povo é a voz de Deus”! As casas, coisas simples, uma quase colada na outra. Quando o pastor passava, as mulheres buscavam, através de gestos, uma comunicação que a dignidade as impedia de vociferar.
Mas, então, quem era este pastor? Posso imaginar a curiosidade de você, caro leitor, que imagina um pastor como um homem de princípios. Um homem instruído a pregar coisas que você há de seguir para toda a eternidade. Um cidadão de bem, que procurou a paz em um soberano e jamais deixou de seguir os seus mandamentos.
Então o nosso pastor vivia a pregar: “Lembra, querido! A voz do povo é a voz de Deus, o nosso grande criador...”. Circulava pela rua com a sua grande pasta preta contendo livros e mais livros. Sempre que se achava cansado, parava em um canto qualquer; pedia um café, ou um saboroso suco de goiaba. Sim, era fascinado por suco de goiaba! Mas isso em tempos mais atuais; digamos que, de umas semanas pra cá.
Por falar nisso, foi por causa de uma goiaba que tudo começou! Aquelas cenas jamais me fogem á memória! Então, amigo leitor, coloque – se comigo no outro lado da rua. Na calçada oposta, uma grande goiabeira, frutas maduras, lindas demais.
Tão lindas que pareciam com aquela moça que passeava naquela tarde quente, carregando a sua sombrinha de cor branca. Tal moça começou a se aproximar das goiabas de forma lenta. Realmente, uma moça pra lá de bonita! Encorpada. Em termos atuais: sarada!
Escolheu uma goiaba para atacar, talvez a única que conseguisse alcançar. Mesmo assim, faltou – lhe tamanho. Talvez uns vinte centímetros a mais de altura seria o suficiente para que ela efetuasse o seu objetivo.
Mas, perceba leitor, olha quem vem lá da esquina! O pastor, com a sua tradicional pasta preta, cheia de livros. Desde já, faço as minhas apostas: “o pastor abordará a moça sob a goiabeira, recolherá a fruta escolhida por ela e fará aquela velha pregação, que a rua toda já decorou – de tanto que se repete”.
Vejam só, bingo!
Perceba que o pastor tem o dom da conversa, basta atentar para o sorriso que a moça abre, de quando em quando. Ela não consegue se concentrar no livro aberto na mão direita do pastor. Com ele, também não há nada de diferente; parece estar longe das tradicionais pregações. No entanto, parece que esta “pregação” será um pouco mais duradoura do que as normais. Talvez comece ali, sob a goiabeira e termine na casa simples da bonita dama.
Pode ser que ... sei lá! Você é esperto, leitor! Você entende!
Pois que os boatos se espalham pela rua: “A pregação foi terminar lá no quarto da bonitona!” Dizem que, agora, o pastor só quer pregar para a mesma pessoa. Já não conduz a sua pasta preta para todos os lados. Tem a goiaba como uma fruta sagrada, aquela que te conduz ao paraíso!
Acima de tudo, continua sendo um pastor! Continua com suas velhas caminhadas, agora mais esporádicas... Um pastor de velhas pregações e novos costumes. Um pastor que a rua inteira conhece. Porque a rua é o povo e a voz do povo é a voz de Deus!

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