Pois que os boatos se espalhavam pela
rua e o pastor vivia a encher a boca para dizer que “a voz do povo é a voz de
Deus”! As casas, coisas simples, uma quase colada na outra. Quando o pastor
passava, as mulheres buscavam, através de gestos, uma comunicação que a
dignidade as impedia de vociferar.
Mas, então, quem era este pastor? Posso
imaginar a curiosidade de você, caro leitor, que imagina um pastor como um
homem de princípios. Um homem instruído a pregar coisas que você há de seguir
para toda a eternidade. Um cidadão de bem, que procurou a paz em um soberano e
jamais deixou de seguir os seus mandamentos.
Então o nosso pastor vivia a pregar: “Lembra,
querido! A voz do povo é a voz de Deus, o nosso grande criador...”. Circulava
pela rua com a sua grande pasta preta contendo livros e mais livros. Sempre que
se achava cansado, parava em um canto qualquer; pedia um café, ou um saboroso
suco de goiaba. Sim, era fascinado por suco de goiaba! Mas isso em tempos mais
atuais; digamos que, de umas semanas pra cá.
Por falar nisso, foi por causa de uma
goiaba que tudo começou! Aquelas cenas jamais me fogem á memória! Então, amigo
leitor, coloque – se comigo no outro lado da rua. Na calçada oposta, uma grande
goiabeira, frutas maduras, lindas demais.
Tão lindas que pareciam com aquela moça
que passeava naquela tarde quente, carregando a sua sombrinha de cor branca.
Tal moça começou a se aproximar das goiabas de forma lenta. Realmente, uma moça
pra lá de bonita! Encorpada. Em termos atuais: sarada!
Escolheu uma goiaba para atacar, talvez
a única que conseguisse alcançar. Mesmo assim, faltou – lhe tamanho. Talvez uns
vinte centímetros a mais de altura seria o suficiente para que ela efetuasse o
seu objetivo.
Mas, perceba leitor, olha quem vem lá
da esquina! O pastor, com a sua tradicional pasta preta, cheia de livros. Desde
já, faço as minhas apostas: “o pastor abordará a moça sob a goiabeira,
recolherá a fruta escolhida por ela e fará aquela velha pregação, que a rua
toda já decorou – de tanto que se repete”.
Vejam só, bingo!
Perceba que o pastor tem o dom da
conversa, basta atentar para o sorriso que a moça abre, de quando em quando. Ela
não consegue se concentrar no livro aberto na mão direita do pastor. Com ele, também
não há nada de diferente; parece estar longe das tradicionais pregações. No
entanto, parece que esta “pregação” será um pouco mais duradoura do que as normais.
Talvez comece ali, sob a goiabeira e termine na casa simples da bonita dama.
Pode ser que ... sei lá! Você é esperto,
leitor! Você entende!
Pois que os boatos se espalham pela
rua: “A pregação foi terminar lá no quarto da bonitona!” Dizem que, agora, o
pastor só quer pregar para a mesma pessoa. Já não conduz a sua pasta preta para
todos os lados. Tem a goiaba como uma fruta sagrada, aquela que te conduz ao
paraíso!
Acima de tudo, continua sendo um
pastor! Continua com suas velhas caminhadas, agora mais esporádicas... Um
pastor de velhas pregações e novos costumes. Um pastor que a rua inteira
conhece. Porque a rua é o povo e a voz do povo é a voz de Deus!
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