terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Quem vai pagar a minha conta?

     Gilberto era uma camarada gente fina. Adorava jogar seu futebol aos finais de semana e trabalhava como auxiliar administrativo ( Grande tática dos porcos capitalistas para pagar uma merreca para quem já é diplomado em Administração de Empresas!) em uma empresa de cosméticos. Normalmente chegava em casa altas horas da noite, cansado ao extremo! O trabalho escravo o destroçava a cada dia! Muitas vezes, nem conseguia conversar com sua companheira sobre como foi o dia, ou mesmo perguntar se ela acreditava neste papo de "Sou Charlie" pra lá e "Sou Charlie pra lá".
     Nos últimos dias, Gilberto andava lentamente pelas ruas, cabisbaixo, e evitava determinados assuntos com determinadas pessoas. Um destes determinados assuntos era política. Dizia - se por entre os frequentadores de seus círculos que o homem não era de negar assunto, qualquer que fosse Então, andava tão cabreiro e decepcionado que nem mesmo quis conversar com os seus colegas de trabalho sobre a última façanha do cara que venceu o pleito para governador do Estado.
     Por simples curiosidade, grande maioria destes colegas de trabalho fizeram um acordo que ficara definido que todos deveriam votar no mesmo candidato para chefiar o governo aqui pras bandas do sul. Como resultado de toda essa campanha, o candidato desejado venceu de lavada o seu concorrente.
     Mas o babado era simples: o tal governador andou lançando sua contribuição para que uma " muvuca de espertos demais" pudesse ganhar um pouco mais, mesmo que nada exerçam de tão representativo assim, nos dias atuais. Ou seja, Gilberto falava em altíssimo som, para que todos pudessem ouvir:
     _ Ora bolas, não votei em capachos e incompetentes que ridicularizam seus próprios discursos de campanha com seus atos negligentes e desprovidos de vergonha!
     Sua companheira procurava o consolar lançando ensaios em tons cada vez mais críticos para que o marido pudesse refletir mais sobre o contexto. Durante a janta de uma noite qualquer, ela serviu um prato de massa e uma taça de vinho tinto ao marido. Com a voz estremecida, desatou a falar:
     _ Meu amor, até parece que você não sabe que todo esse papo de representatividade, no Brasil, é falácia de quem pede voto para representar a si próprio! As pessoas representam apenas aqueles que colocam grana preta em campanhas, comícios e outros destinos nebulosos.
     A mulher parece ter perdido a vergonha frente ao marido. Nunca teve tamanha liberdade e empolgação para discursar sobre assuntos que o próprio Gilberto jamais imaginava que ela teria capacidade. Para ele, a política seria assunto de homem, ainda que conseguisse perceber que a participação das mulheres viesse, cada vez mais, crescendo com o passar dos anos.
     Mais uma vez, voltou - se ao marido:
     _ E você não lembra a Geovana, aquela nossa vizinha bonita e inteligente, que saiu a fazer propaganda eleitoral sem saber nada das propostas de campanha daquele candidato ficha suja, mas com a certeza dos R$ 50,00 diários no bolso! Então, que representação maldita é essa? Diga - me!
     Gilberto silenciou por completo e entrou na cozinha para passar um café bem forte! Bebeu como se fosse água. E assim os dias foram passando, as horas se arrastando e cada momento se transformava numa eternidade.
     Poucos dias depois, a discussão volta com mais força entre ela e sua esposa:
     _ Gilberto, você viu o que o governador está a blasfemar neste lixo desta mídia hipócrita e manipuladora?
     O homem balançou a cabeça fazendo lentamente um sinal de negatividade.
     _ Então veja isso!
     Alcançou o jornal amassado e fedorento ao marido, que largou tudo o que estava fazendo para se inteirar do assunto. Naquele mesmo instante, ele percebeu o quanto se arrependera do seu voto! Pensou, também, em todos os seus colegas que fizeram acordos para eleger uma pessoa que não sabia o que fazer, onde fazer e pra quê fazer.
     No dia seguinte, ao chegar ao trabalho, Gilberto dirigiu - se aos companheiros com a voz rouca, em baixo tom:
     _ Vocês atentaram para o que está acontecendo no cenário político? Viram o que o gringo está fazendo sem mesmo fechar um miserável mês de governo? Pois é...
     Acomodou - se a um canto da sala e aproximou - se da janela. O escritório localizava - se no centro da cidade, de onde era possível avistar a parte superior do Palácio Piratini. Por entre pensamentos e olhos fulminantes em direção ao palácio governamental:
     _ De tantas porcarias que fiz e dúvidas que tenho: quem vai pagar a minha conta?
   

    

2 comentários:

  1. muito bom seu blog, aprendi muito visitando sua pagina, vou indicar seu blog para meus amigos e seguir seu blog ,. valeu linuxbugone.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  2. Obrigado Rodolfo! Pode ter certeza de que serão todos muito bem - vindos!
    Obrigado pela força!!!
    Abraço forte amigo!

    ResponderExcluir