domingo, 24 de abril de 2016

Tiros no Cristo Redentor.

                                                                  “Violência da favela começou a descer pro asfalto
Homicídio seqüestro assalto
Quem deveria dar a proteção
Invade a favela de fuzil na mão
Eu sei que o mundo que eu vivo é errado
Mas quando eu precisei ninguém tava do meu lado
Errado por errado quem nunca errou?
Aquele que pede voto também JÁ matou”

                                                                                                                            MV Bill 
Saudações queridos amigos e leitores!
No texto de hoje, gostaria de falar um pouco sobre a recentíssima troca de tiros entre policiais da Brigada Militar e criminosos, aqui em Porto Alegre, e sobre a criminalidade em sentido mais amplo. Tal acontecimento se deu na tarde da última sexta - feira em frente ao Hospital Cristo Redentor, zona norte da cidade, e resultou na morte dos quatro criminosos envolvidos e deixou dois policiais baleados (1).
É claro que tal ocorrência não anula a violência cotidiana que estamos vivendo, mas impressiona pelas imagens do tiroteio, bem como a fotos dos mortos vagando pelas redes sociais. Assim, a sensacionalização do sangue, do crime e da morte faz as pessoas acharem tudo aquilo bonito como se fosse um filme de ação americano. Enquanto isso, policiais colocam suas vidas em risco em uma troca de tiros com jovens que não tem nada a perder. 
No entanto, gostaria de tecer alguns comentários sobre o que percebo sobre a criminalidade e a grande guerra que se instala entre facções rivais, aumentando o número dos homicídios entre os jovens e, conseqüentemente, dilacerando famílias. 
Em primeiro lugar, me sinto culpado e impotente por ter de vivenciar essa violência, fazer parte dela e me sentir vítima ao mesmo tempo. Na verdade, é muito fácil para as pessoas dizerem: "Bem feito! Tem mais é que matar mesmo!" (No caso citado acima, do tiroteio!) ; "Quem bom, deixa que se matem entre eles!" (Sobre troca de tiros e homicídios entre facções rivais!). No entanto, as pessoas esquecem que vivemos em sociedade e nossas trocas cotidianas podem ser afetadas a qualquer momento. O valor que damos à vida pode se perder em um tiroteio, mesmo que sejamos inocentes e uma bala perdida perfure nossa cabeça! Ou seja, compartilhamos relações com uma infinidade de pessoas com perfis diferentes. Entre eles estão, sim, a polícia, os traficantes, os sonegadores de impostos e os políticos corruptos etc...
Assim, percebo que muitas pessoas não se interessam pela sociedade! Estão presas em suas casas, em seus quartos, com seu consumismo individualista. Isso é o que importa! Não interessa o resto, basta que se esteja bem consigo mesmo. Não importa em quem se vai votar porque os políticos "são todos ladrões"! Que se dane, o cara não tem emprego porque não estudou! Ora, como se houvesse emprego em abundância e faculdade de graça pra todos.
Infelizmente, as pessoas só pensam em si mesmas. Só pensam socialmente na hora de comprar algo de valor para sustentar seu ego consumista, mesmo que a compra não sirva pra nada, basta que impressione a classe de amigos e cause inveja nos demais familiares que não possuem as condições necessárias para adquirir tal posse de valor. Então, como pode uma pessoa ignorar o resto da sociedade e só abrir a boca para falar quando episódios tristes como o tiroteio acima acontecem? Como pode as pessoas não sentirem culpa? Grande maioria odeia a política, mas depois quer cobrar moral dos "representantes"?
Como funciona isso, queridos?
Aqueles valentes policiais só queriam voltar para casa, abraçar suas esposas e ver seus filhos! Saíram vivos, mataram em legítima defesa, ainda que em certas imagens seja perceptível a execução a sangue frio! Aqueles jovens, maioria com antecedentes criminais, só queriam concretizar seus crimes sem ser pegos: acabaram perdendo a vida, por não temerem à própria morte! Nada tem de bonito nisso, a não ser àqueles que cultuam a sanguinária e criminosa indústria da morte por meio do sensacionalismo midiático e cinematográfico!
Então, enquanto escrevo este texto, é possível que mais policiais estejam em risco! Enquanto escrevo este texto, é possível que algum jovem tenha sido assassinado, mesmo na condição de vítima de assalto ou de bala perdida em troca de tiros. Em conseqüência, enquanto escrevo este texto, o crime está avançando, e o Estado punindo apenas o derramamento de sangue e não atacando o ponto central de todo o sistema.
Não concordo com a afirmação de que quando um bandido atira em policial está atirando na sociedade! Isso porque a sociedade não está espelhada na figura do policial. Este é um verdadeiro herói, pois arrisca - se de todo o possível para combater um crime que seus próprios superiores, o Estado, não deseja combater! Um policial é uma espécie de peão armado, que não pode saber exatamente à quem está garantindo a ordem e fazendo cumprir a lei! É um cidadão desvalorizado frente a um sistema nojento que treina para matar e não educar! Uma troca de tiros que resulta na morte de quatro jovens abafa muito mais do que os milhões em dinheiro vivo que os bandidos de terno e gravata saqueiam do povo, diariamente. Ou seja, verdadeiras fortunas que deveriam ser empregadas em um sistema carcerário eficiente, um sistema educacional onde a Escola tivesse mais força que a rua etc...
Como costumo dizer em rodas de conversa: os tiros que arriscam vidas a todo instante, tanto por parte da polícia como por parte dos criminosos, e que põem a sociedade em risco sempre, não passam da ponta de um "iceberg" em relação à forma estrutural da segurança pública e dos interesses estatais. Enfim, os policiais tiraram quatro criminosos da rua, impedindo que pratiquem novos delitos, mas jamais vão combater a criminalidade pelo simples fato de isso não ser interesse deste Estado que sustentamos com o suor do nosso trabalho e à custa de muito esforço. 



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