A cidade de Porto Alegre tem passado por momentos de
turbulência. As manifestações contra o aumento das passagens têm gerado
conflitos entre policiais e manifestantes, atos de vandalismo; mais ainda, tem
prejudicado o trânsito nas principais vias da cidade. E neste bolo todo, parece
claro que a sociedade teria de posicionar – se em favor das autoridades
públicas. Todos como uns legítimos cordeirinhos de forte tendência submissa.
Neste texto, gostaria de conversar um pouco sobre toda
essa legitimidade que a sociedade tem colocado em favor dos agentes públicos.
Para tanto, gostaria de mencionar, pelo menos, três importantes fatores que
difinem o apoio da sociedade em favor do Estado.
Em primeiro lugar, gostaria de citar a questão
cultural que envolve o forte discurso das autoridades em relação à alienação do
povo. Em outras palavras, desde as épocas do descobrimento, até os dias de
hoje, a mentalidade da população está voltada para o trabalho. Índio, escravos
e, um conceito mais moderno: o terceiro setor.
Cada vez mais, as pessoas têm o pensamento de que
precisam trabalhar e acabam doando suas vidas a esta causa. Dessa forma, acabam
desqualificando - se e atirando - em
qualquer oportunidade laborial com a desculpa de que, na rua, as chances de arrumar empregos são raras. Dessa forma, grande
parte das pessoas não encontra tempo para discutir aspectos socialmente
relevantes; como o aumento no valor das passagens, por exemplo.
Neste enrolado todo, há uma forte tendência de que as
pessoas se tornem submissas, negligenciando o seu próprio potencial e fazendo
com que suas idéias e pensamentos sejam manipulados por forças externas. A
pergunta que fica: será que funcionários de uma empresa questionam atitudes de
superiores, mesmo sabendo que estas atitudes são erradas? Claro que não;
afinal, todos precisam trabalhar! Isso é submissão, isso é manipulação!
Um segundo ponto relevante que gostaria de comentar:
a questão do ensino. O que estamos ensinando (alienando) em nossas salas de aula?
Pois bem, percebam que as instituições de ensino estão investindo pesadamente
em formações profissionais. Então, qual a intenção? Respondo: continuar
alimentando a riqueza de quem já é rico. Em outras palavras, estuda – se para
continuar propagando as desigualdades sociais e o desiquilíbrio de renda . Ou
alguém imagina que se estuda, no Brasil, para ser um grande empresário?
Mas o que o ensino tem a ver com os protestos em
Porto Alegre? Talvez o ensino que já propaga – se ao longo de décadas esteja
direcionado a alienar cada vez mais a sociedade, no sentido de que proíba o
senso crítico e um maior conhecimento sobre como se manifestam os grandes
problemas sociais. Sobre isso, quem sabe procurar uma compreensão maior sobre o
porque da exclusão da disciplina de Ciências Sociais, por muitos anos, dos
currículos educacionais.
Um terceiro, e último, aspecto: a imprensa. Aqui,
encontra – se, talvez, a maior arma ideológica da sociedade contemporânea. Em
outras palavras, reparem que até a programação de muitas emissoras estão
distribuídas para uma captação da audiência cada vez maior. Dessa forma, os
noticiários, que só comunicam o que lhes convém, costumam ir ao ar nos momentos
em que os trabalhadores (Os mesmos que doam a vida para manter a riqueza de
quem já é rico...) gozam um momento de descanso; ou seja, nas horas de
refeições.
Não bastasse isso, os grandes jornais impressos fazem
as notícias se propagarem em altíssima velocidade. Mas que notícias? Qual o
público a ser atingido? Mulheres nuas na capa, artigos extremamente parciais,
signos e grandes variedades culinárias?
Reparem, os jornais impressos mostram as mesmas “artes”
que a televisão está a mostrar! Então, aquele trabalhador que vai pagar R$ 3,05
para chegar ao trabalho, vai ler no seu jornal aquela ideologia que a empresa
defende. Ou alguém ousaria a duvidar de que todo o veículo de informação é uma
empresa, com fins capitalistas?
Infelizmente, a sociedade contemporânea não consegue
perceber a grau de submissão ideológico à qual está submetida. Os governos não
fazem nada pela educação, seria por acaso? Acordem, neste extremo mundo
subdesenvolvido, quanto menos o populacho pensar, melhor! É muito mais fácil chamar um manifestante de
vagabundo ou maloqueiro! Porque o Brasil é assim, desde a chegada da família
real a este país tropical, onde corrompeu índios e roubou terras nativas para
doar aos seus pares! Mas essa forma exploratória se propagou e o escravismo,
que durou anos, não me deixa mentir.
Enfim, rapidamente, procurei abordar três fatores que
influenciam diretamente uma submissão de grande parte da sociedade em relação a
quem detém o poder. A questão cultural da alienação; a questão do ensino, muito
desvalorizado ao longo de muitos anos de Brasil e, por fim, a questão da
imprensa, que não mede esforços para chamar um manifestante de “marginal” ou “vândalo”
mas promove um morticínio ideológico das pessoas mais humildes.
Dizem que o dia 1º de Abril é o dia dos bobos! Pois
lhes digo que mais uma manifestação estará marcada para este dia, a ocorrer na
próxima segunda – feira. Os jovens estudantes já tiraram do poder da república
um presidente que não servia, e o Brasil os exaltou. Que a sociedade continue a
julga – los e depois a saborear dos gostosos sabores de suas conquistas!
Por outro
lado, gostaria de esclarecer que sou absolutamente contra atos de vandalismos;
ou seja, apoio toda e qualquer forma de manifestação desde que seja pacífica, sem
depredações e violências! No entanto, talvez o maior problema não seja o que
realmente aconteceu, mas aquilo que a grande imprensa resolveu falar e mostrar
aos seus clientes!