A desilusão amorosa de Roberta.
Antes
de deixar a mesa na qual jantava com sua família, Roberta gritou desesperada
com intenção de encerrar uma ríspida discussão que acontecia entre seus três
irmãos por causa de política: “parem de falar besteiras, vocês só sabem olhar
para o próprio umbigo!”. Então retirou – se em direção ao seu quarto, subiu em
uma pequena escada de três degraus que guardava atrás da porta e pegou seu
diário que estava na parte superior de uma sapateira espelhada para narrar os
principais fatos do dia.
Dirigiu
– se a uma pequena escrivaninha branca que se encontrava ao lado de sua cama.
Puxou a cadeira que ali se encontrava, sentou – se com as pernas cruzadas e
começou a escrever:
Apenas
quem carrega consigo o amor pode enfrentar momentos difíceis por
causa deste sentimento tão lindo e tão intenso. Foi o que aconteceu comigo no
dia de hoje, fato que me deixou tão triste. Sabes o quanto tenho segurado a
barra por guardar tanto amor e esperança, por permanecer tão fiel aos meus
sentimentos e por não permitir que o lado de dentro deste pobre coração fosse
invadido por qualquer causa negativa que viesse do lado externo e que conduzisse
à tristeza.
Mas
muitas vezes as coisas não acontecem da forma que desejamos. Desde o começo dessa
caminhada, dediquei muita esperança nesta pessoa a qual dediquei o meu amor, o
meu precioso tempo e minha fé! Era um amor patriótico, incondicional,
inexplicável até mesmo por meio dos melhores livros de mitologia que vendem
pelos sebos da cidade.
Mas
não amei por acaso, amei com devoção e sentimento; com o prazer e desejo de
luta que o meu país tanto precisa para se estabelecer enquanto nação! Depositei
todas as esperanças em um relacionamento revolucionário que pudesse me trazer
algo de novo, e não um relacionamento medíocre como os que tive no passado com
falas sem significados, mentiras exacerbadas e infidelidade externalizada em
cada esquina.
Querido
diário, se hoje estou triste é porque pago o preço por ser ingênua e não querer
entender o que, de fato, são as coisas do amor. Preciso, na verdade, saber amar.
Principalmente, saber quem é esse amor que tanto defendo, dedico minha atenção
e, por fim, creio estar fazendo a escolha certa para caminhar ao meu lado.
Por
isso, hoje me sinto traída. Sinto – me como aquela bailarina que faz dancinhas
imbecis achando que essa imbecilidade vai me levar a algum lugar. Saí da mesa há
pouco porque não conseguia mais ouvir meus irmãos falando da mesma pessoa,
criticando a mesma pessoa e fazendo reviver em meu pensamento todo esse
sentimento que tive enquanto uma patriota alienada.
Não se
vive um amor revivendo de atos que já ficaram para trás, muito menos prometendo
o novo completamente amparado em práticas cretinas, criminosas e de fatos do
passado. Minha maior tristeza foi dedicar tanto amor e, finalmente, entender
que na prática estou adentrando em um “museu de grandes novidades” como diria o
eterno Cazuza. Amanhã estarei aqui de volta, querido diário, com a certeza de
que a ferida há de fechar e aquelas promessas todas hão de evaporar de minha
mente e, acima de tudo, do meu desapontado coração.”