segunda-feira, 27 de abril de 2020

A desilusão amorosa de Roberta.


A desilusão amorosa de Roberta.

Antes de deixar a mesa na qual jantava com sua família, Roberta gritou desesperada com intenção de encerrar uma ríspida discussão que acontecia entre seus três irmãos por causa de política: “parem de falar besteiras, vocês só sabem olhar para o próprio umbigo!”. Então retirou – se em direção ao seu quarto, subiu em uma pequena escada de três degraus que guardava atrás da porta e pegou seu diário que estava na parte superior de uma sapateira espelhada para narrar os principais fatos do dia.
Dirigiu – se a uma pequena escrivaninha branca que se encontrava ao lado de sua cama. Puxou a cadeira que ali se encontrava, sentou – se com as pernas cruzadas e começou a escrever:
“27/04/2020, querido diário:
Apenas quem carrega consigo o amor pode enfrentar momentos difíceis por causa deste sentimento tão lindo e tão intenso. Foi o que aconteceu comigo no dia de hoje, fato que me deixou tão triste. Sabes o quanto tenho segurado a barra por guardar tanto amor e esperança, por permanecer tão fiel aos meus sentimentos e por não permitir que o lado de dentro deste pobre coração fosse invadido por qualquer causa negativa que viesse do lado externo e que conduzisse à tristeza.
Mas muitas vezes as coisas não acontecem da forma que desejamos. Desde o começo dessa caminhada, dediquei muita esperança nesta pessoa a qual dediquei o meu amor, o meu precioso tempo e minha fé! Era um amor patriótico, incondicional, inexplicável até mesmo por meio dos melhores livros de mitologia que vendem pelos sebos da cidade.
Mas não amei por acaso, amei com devoção e sentimento; com o prazer e desejo de luta que o meu país tanto precisa para se estabelecer enquanto nação! Depositei todas as esperanças em um relacionamento revolucionário que pudesse me trazer algo de novo, e não um relacionamento medíocre como os que tive no passado com falas sem significados, mentiras exacerbadas e infidelidade externalizada em cada esquina.
Querido diário, se hoje estou triste é porque pago o preço por ser ingênua e não querer entender o que, de fato, são as coisas do amor. Preciso, na verdade, saber amar. Principalmente, saber quem é esse amor que tanto defendo, dedico minha atenção e, por fim, creio estar fazendo a escolha certa para caminhar ao meu lado.
Por isso, hoje me sinto traída. Sinto – me como aquela bailarina que faz dancinhas imbecis achando que essa imbecilidade vai me levar a algum lugar. Saí da mesa há pouco porque não conseguia mais ouvir meus irmãos falando da mesma pessoa, criticando a mesma pessoa e fazendo reviver em meu pensamento todo esse sentimento que tive enquanto uma patriota alienada.
Não se vive um amor revivendo de atos que já ficaram para trás, muito menos prometendo o novo completamente amparado em práticas cretinas, criminosas e de fatos do passado. Minha maior tristeza foi dedicar tanto amor e, finalmente, entender que na prática estou adentrando em um “museu de grandes novidades” como diria o eterno Cazuza. Amanhã estarei aqui de volta, querido diário, com a certeza de que a ferida há de fechar e aquelas promessas todas hão de evaporar de minha mente e, acima de tudo, do meu desapontado coração.”





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