sexta-feira, 15 de setembro de 2023

AdvoGADO dos golpistas.

      AdvoGADO dos golpistas.

      Tenho feito diversos esforços para tentar compreender o que se passava na cabeça daquele advogado que foi corrigido pelo Ministro Alexandre de Moraes, do STF. Em primeiro lugar, o fato de fazer a defesa de alguém que atentou contra o próprio direito de se defender; afinal de contas, a democracia ampara com força a ampla defesa. Como entender? Em segundo lugar, não há dúvidas de que os advogados em exercício na defesa dos criminosos que atuaram nos repugnantes atos golpistas de 8/01/2023 representam um mundo idológico completamente alienado, em que o Príncipe e o Pequeno Príncipe são farinhas do mesmo saco.

      Não há dúvida alguma em relação ao fato de que toda a pessoa deve ter o direito de se defender de quaisquer acusações. Seja no âmbito civil, no criminal ou em qualquer outra esfera do direito: a ampla defesa está impregnada na nossa Constituição Cidadã e, acima de tudo, Democrática! Ora, atentar contra as instituições democráticas é o mesmo que atirar contra a própria cabeça depois de sobreviver aos desmandos de uma guerra.

      Pois que, insatisfeitos com os resultados das urnas, expressão máxima de uma democracia plena em termos políticos, um bando de bandidos invade os principais símbolos da nossa democracia e depredam sedes das nossas maiores instituições democráticas. Como um troféu ornamentado com decorações de fezes em processo de fermentação, essa gente espalhou vídeos e fotos pelas redes sociais como se estivessem, de fato, exercendo o tão deturpado e defendido “patriotismo”. Como consequência, aos poucos, os criminosos e agentes daqueles atos medíocres estão retornando ao lugar do crime para serem julgados pela própria vítima: a sociedade!

      Agora, vamos combinar: a ignorância das pessoas atinge um nível tal que, de fato, só restam por apresentarem defensores que choram sob o pretexto da humilhação ou, pasmem, colocam um escritor clássico da Ciência Política no mesmo nível de “pensadores” terraplanistas, fortemente inspirados em teorias de conspiração e delírios de toda a ordem. Como pode isso?

       Em pleno século XXI tentar dar um golpe de estado com a justificativa de implantar uma “real democracia”, sob o pretexto de que estão sendo censurados em suas informações inverídicas e que o sufrágio universal foi manipulado? Devem ter, no mínimo, estudado deveras para adquirir tal nível de idiotice!

      O bolsonarismo criou um mundo na cabeça de pessoas que realmente acreditam em quaisquer mentiras e besteiras espalhadas nas redes sociais. Aquele papel bizarro que fez o advogado, a ponto de ser corrigido por um Ministro do STF, precisa ser visto como algo comum dentro de um mundo recheado de preconceitos e ignorâncias e que, pasmem, as mentiras são ventiladas a ponto de se tornarem verdade. Neste contexto, não basta que as instituições atuem de forma a punir esses golpistas, é necessário que o poder público faça campanhas e crie leis que, de fato, punam quem dissemina esse verdadeiro mar de mentiras que, descaradamente, estamos a ver por aí.

      Em síntese, o Príncipe e o Pequeno Príncipe não são farinhas do mesmo saco, Dr.! A propagação da falta de conhecimento em nossa sociedade reproduz imbecilidades dessa natureza, é fato! Muitos adeptos desta ideologia boçal rezavam para os et´s, enquanto outros “patriotas” marchavam na chuva berrando como loucos ou passeavam na parte frontal de caminhões como se estivessem fazendo algo muito produtivo para a nação! Pois digo, queridos: respeitem a democracia, pois, graças a ela vocês estão tendo o direito de se defender dos atos golpistas do qual foram protagonistas!

sábado, 9 de setembro de 2023

O ladrão de joias.

         
O LADRÃO DE JOIAS

A família de patriotas estava postada para o jantar. Anastácia servia o banquete com toda a delicadeza; afinal de contas, no dia anterior, havia tomado o famoso “gancho” do patrão por ter virado alguns grãos de açúcar sobre a mesa. Delicadamente, Maria se aproxima do marido, despende um beijo arrastado em sua testa e pergunta-lhe como havia sido o seu dia. O homem aparentava cansaço, com o semblante externalizando preocupação e decepção:

_ Tive um dia complicado, meu amor. Sumiram algumas peças da loja do centro e ninguém sabe o que, de fato, aconteceu. Alguns acusam o Gilberto, de um lado; de outro, muitos afirmam categoricamente que isso é coisa do Vespúcio, que sempre tivera um pezinho no ilícito.

O fato é que, naquele dia, algumas joias em pedras de diamantes e encorpadas em ouro desapareceram! Junto a elas, pelo menos três relógios de grande valia também foram subtraídos. Ora, por motivos ainda desconhecidos, o patrão não quis registrar ocorrência na polícia; e, muito menos, desejou de fato saber quem estava envolvido neste caso de subtração de bens alheios.

Enquanto o casal se encaminhava para o final da janta e Anastácia já cercava a mesa, a porta bate, com força! Era Flavinho, que ficara até os últimos instantes da aula de boas maneiras. Completamente agitado, o rapaz se dirige ao pai:

_ Você já está sabendo do escândalo das joias?

_ Claro que sim, filho! Estão dizendo por aí que foi o Gilberto, mas que também é possível que tenha sido o Vespúcio! Mas não quero esticar este assunto, guri!

O patrão estava brabo com a situação, planejando uma saída. Flavinho, desapontado, olha atentamente o semblante do pai e dispara:

_ Não estou falando disso pai, refiro-me às notícias que rolam por aí! Parece que o anterior chefe de nação roubou as joias da pátria como se fossem coisas de própria propriedade! Você não viu nada a respeito?

Sorrindo, com o olhar brilhante de tanto patriotismo e aquele porte corporal, peito estufado, dos atuais cidadãos de bem, resmungou consigo mesmo:

_ Impossível! Vou morar em outro planeta caso isso seja, de fato, verdade!

E dirigiu-se ao quarto, sob a risadinha sarcástica do filho e os olhares espantados da mãe e da empregada! Adentrando, se aproximou da janela e puxou a cortina para o lado. Pensativo, sentou-se na cama, ao lado da sua mesa auxiliar, e serviu uma taça de vinho. Após a primeira bicada, refletiu:

“Como pode, eu e a pátria sermos saqueados ao mesmo tempo? Só pode ser blasfêmia e intriga de gente que não tem mais nada de importante para fazer?! Malditos comunistas, ladrões e mentirosos”.

Naquele momento, Flavinho já havia se recolhido aos seus aposentos e Maria ainda conversava amigavelmente com a empregada Anastácia, no corredor entre a sala de jantar e a cozinha. O relógio já apontava para as 11 horas e os minutos se arrastavam cada vez mais. Quando encostou a taça a fim de absorver o terceiro gole do vinho, o patrão não resistiu e buscou confirmar a informação trazida pelo filho anteriormente!

_ Nossa senhora! Deus, pátria, família: protejam o nosso povo!

Em uma das imagens veiculadas na imprensa, aparecia o saqueador recebendo uma pulseira de ouro de um alto escalão militar em evento realizado na capital do país. O patrão a tudo acompanhava atentamente, custava em desacreditar nos valores tão “ferozmente” defendidos pelos seus líderes políticos. Mais uma vez, não acreditou. Gritou alto:

_ Mentira! Falácia, armação! Somos cidadãos de bem! Jamais, jamais...

E a taça de vinho atravessou a extensão do quarto e se espatifou contra a parede ao lado da janela. Nesse instante, entra a esposa, assustada, e faz de tudo para acalmar o marido:

_ Está tudo bem, Jair! Vai passar! As vezes acreditamos nas pessoas e elas acabam nos traindo de forma inesperada e inconsequente! Vai melhorar!

Irritado, Jair manda que a esposa lhe deixe em paz. Ao sair do quarto, Maria caminha lentamente e olha de soslaio para o marido e, com a voz engasgada e a mente tranquila:

_ No fim das contas, não foi o Gilberto e muito menos o Vespúcio, tão criminalizado! A vida tem destas coisas; assim como existem falsos messias, também existem ladrões de joias que se dizem cristãos!