terça-feira, 15 de dezembro de 2020

O crime de Magnum.

          O crime de Magnum.

Durante a minha adolescência, em um desses cursos que a vida nos proporciona, conheci um jovem de cabelos longos e barba rasa. Seu nome era Magnum, tinha uma grande estatura corporal e não abria mão de carregar em sua bolsa laranja uma carteira de couro que abrigava um saquinho contendo sua pequena quantidade de erva diária.

Magnum era conhecido como o “Loiro” e tinha um “modos operandi” bem particular dentro da escola onde estudávamos. Na verdade, sua postura agressiva fazia com que muitas pessoas ficassem retraídas frente aos seus discursos e a sua forma de se expressar, geralmente pelos gestos e voz alterada. Nesse contexto, muitos preferiam manter distância para evitar brigas ou debates mais acirrados; seja por medo ou respeito.

Mas com o tempo fui me aproximando do “Loiro” e, consequentemente, ingressei um pouco no seu mundo, na sua vida elitizada. Naquela época, sempre tive de enfrentar as suas lamentações, seus discursos despidos de fundamento e, o pior de todos: a sua baforada contra o vento, que insistia em fazer voltar ao meu rosto toda a fumaça que saía do cigarro de maconha que, cotidianamente, ele consumia. O jovem sempre idolatrava filmes americanos, onde as armas eram protagonistas e o sangue fazia encher as salas de cinema em todo o mundo.

Durante algumas conversas entre colegas, por instantes, comecei a imaginar que o consumo de drogas começava a afetar o pensamento do Magnum nos debates políticos, econômicos ou histórico do nosso grupo escolar. O “loiro” fantasiava uma vida como se habitasse outro planeta ou como se vivesse em um mundo completamente diferente daquele que trazia nos seus discursos.

Assim, em uma discussão sobre operações policiais nas comunidades carentes, ele achava legítimo o aparato policialesco do Estado invadir residências humildes, sem mandado judicial, e submeter moradores às ameaças bélicas como se fossem marginais. Questionado, o “loiro” alterava a voz e, de forma violenta, esbravejava e enchia a boca para dizer que a polícia tem de fazer a sua função na sociedade. Defendia bravamente o porte de arma para os cidadãos de bem, mesmo sem saber o significado de “cidadão de bem”.

Certa feita, era uma sexta-feira chuvosa na cidade de Porto Alegre, ocorreu um debate entre Magnum e Diego.

Diego também era aluno do curso e também gostava de uma bela discussão. Mais ainda, assim como o “loiro” adorava fumar o seu tradicional cigarro de maconha. Neste dia, ambos se encontraram em um prédio localizado bem na frente da escola e travaram uma grande discussão para defenderem suas visões. Foi um embate que durou, pelo menos, duas horas e alguns minutinhos.

Resumindo: o discurso bélico e confuso de Magnum se perdeu nas colocações realistas e providas de fundamento do Diego. Aqui, vou apenas reproduzir a fala deste último, o que causou certo alvoroço entre os ouvintes e, inclusive, provocou reações violentas no seu opositor naquela situação!

Segue a fala do Diego:

_ Sabes quantas pessoas, principalmente jovens da nossa idade, tem de morrer todos os dias para que possamos fumar a nossa maconha? Repara, nas nossas casas a polícia não entra. Estão nos nossos bairros para nos proteger. Mas nas periferias não é assim. Lá ser negro e pobre é o mesmo que ser vagabundo! Lá, os moradores são traficantes; nos nossos bairros, são consumidores.

Segue Diego:

_ Defendes tanto a utilização de armas para uns, mas nega para os outros! Contra o ladrão de galinha é tiro! Contra os milionários que nos levam à miséria e à pobreza sonegando quantias vultosas em impostos e acumulando riquezas? Nada? Façamos o seguinte: paremos de consumir drogas, pode ser que aí a criminalidade diminua e tu podes colocar teus pés no chão e perceber que todo o sangue derramado o é feito por alguém.



quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Floyd e Beto: Os espetáculos de uma sociedade doente.

 

Floyd e Beto: Os espetáculos de uma sociedade doente.

Dias atrás, um homem negro foi brutalmente assassinado a socos por três seguranças do mercado Carrefour, em Porto Alegre. É claro que as imagens do crime percorreram o mundo e chocaram pela brutalidade e instinto primitivo dos criminosos. As imagens falam por si, e não é meu objetivo impressionar ninguém, se é que isso é possível.

Neste contexto, milhares de pessoas prestaram suas homenagens à vítima não apenas no Brasil, mas em diversas partes do mundo! Manifestações ocorreram em diversas filiais do Carrefour, onde houve depredação e ação forte dos aparatos repressivos do estado burguês para fazer o que, historicamente, fazem: defender o patrimônio, e não a vida.

Dito isso, a discussão chegou ao tribunal medíocre chamado rede social, onde ignorantes viram doutores e a descrença em relação à luta alheia vira motivo de piada e, não raro, de negação de egocêntricos que em nada acreditam, a não ser o que está na ponta do seu próprio nariz.

De um lado, a questão racial, que jamais esteve longe de nossos olhos, volta a ser tema de debate, por tratar-se uma vítima negra; a exemplo do que ocorreu com George Floyd, homem negro, de 46 anos, que foi morto por asfixia, quando estava sob a custódia da polícia em Minneapolis, no estado de Minnesota. De outro lado, o negacionismo exacerbado daqueles que não acreditam em racismo, e acham que tudo é um jogo de interesses e intenções políticas.

Alguns amigos postaram, em suas redes sociais, histórias de negros que se deram bem na vida. Postagens de pessoas que conseguiram o sucesso, mesmo sendo negras. Inclusive, algumas dessas histórias sendo protagonizadas e relatadas por pessoas negras. É claro que as pessoas que negam o racismo farão de tudo pra defender sua posição. Quer um exemplo? Não foram poucos os que, incomodados com as manifestações contra o racismo, foram buscar os antecedentes da vítima do crime no Carrefour para justificar o episódio.

Repara, o negacionista não tem o discernimento de legitimar a luta alheia! Prefere ignorar fatos históricos e manifestações legítimas para satisfazer o seu ego fracassado e covarde que esconde um preconceito subjetivo que ele mesmo desconhece. É muito mais fácil fingir que tudo é político e que tudo é interesseiro.

Não é, caras, o racismo existe! E não apenas isso, estende seus tentáculos por todos os cantos de um país escroto construído á base de sangue negro. Mesmo assim, o fraco vice-presidente do país vem a público dizer que “querem importar” o racismo. Incrivelmente, muitos homens e mulheres negras ainda aplaudem tais afirmações como aqueles escravos negros que comemoravam festa da casa-grande, em tempos sombrios de nossa história.

Em contrapartida, milhares de pessoas se manifestam por algum motivo que já vivenciaram e lutam por uma causa. Lutar contra o racismo, hoje amparado pelo negacionismo dos preconceituosos covardes, é um de ver de todos. São milhares de pessoas que já sofreram dessa forma de preconceito; inclusive de negros que não gostam de brancos, pardos, etc...

No entanto, o caso do Carrefour, exacerbou ainda mais o espírito sanguinário dos assassinos, assim como em diversos outros casos que jamais teria o mesmo final fossem as vítimas pessoas brancas, de “status”. Não adianta os racistas virem com a ficha do cara, espalhando no Facebook (Pasmen!) para justificar o injustificável.

Não adianta postar foto de policial negro morto em confronto com criminosos para queimar manifestações legítimas. Não adianta selecionar fotos de negros batendo em brancos para sustentar o próprio ego. O momento é de reflexão no sentido de tentar entender porque diversas vezes um segurança de loja
coloca o radinho e conversa percorrendo corredores atrás de um negro. Será que precisarei filmar?

Enfim, no mercado, na rua, na família, em cada reduto deste Brasil e do mundo: o racismo é uma realidade. Deve ser, portanto, motivo constante lutas no sentido de executá-lo, exterminá-lo e fazer justiça por todos que nos deixam e nos deixaram, no mundo todo, por motivos de preconteito racial!

Racistas, não passarão!

 

 

 

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Em Porto Alegre, é Manuela 65!

 

Em Porto Alegre, é Manuela 65!

Enfim, depois de uma campanha tumultuada, com alguns candidatos à prefeitura de Porto Alegre mostrando todo o seu despreparo, preconceito e baixo nível, chegamos ao segundo turno. Não há qualquer dúvida de que esse importantíssimo pleito será disputado entre os dois que demonstraram melhor preparo. Conseguiram, por certo, chegar à final aqueles que construíram uma carreira política mais sólida e mais consistente.

De um lado, temos o ex-vice de José Fortunati, Sebastião Melo, que representa um partido político que costuma estar sempre cercando o poder. Com um invejável currículo político, Melo não consegue esconder o seu instinto político medievalesco que vê na economia, acima da própria vida, a razão de ser de todos os seres humanos. Neste contexto, não me parece compreensível que milhares de pessoas que perderam amigos e familiares vitimados por esta maldita pandemia possam votar em um candidato que defende o fim da quarentena e o retorno imediato da abertura da economia.

Antes eu imaginava que o erro de Sebastião Melo era viver à sombra de Fortunati. Todavia, hoje percebo que o discurso parece ser o mesmo, e as atitudes não são muito diferentes. Aquela velha política que não traz dados estatísticos que comprovem teses e considerações, mas fórmulas mágicas para resolver os problemas da cidade estão expostas. Em um de seus recentes debates com sua opositora, questionado sobre o combate á drogadição  na cidade, o candidato não conseguiu se posicionar.

Sobre a educação, como se vivesse em outro mundo, afirmou que a escola é um lugar seguro. Questionado sobre a segurança pública, área que Melo conhece bem, a fuga do tema foi a mesma daquele despreparado bolsonarista que vive de três fatores essenciais: fake news, ignorância e antipetismo.

Mas não é apenas isso, afirmar que, no transporte público, “o pobre financia o pobre” é, no mínimo, zoar da inteligência de milhares de pessoas que dependem desses serviços cotidianamente e enfrentam um caos enorme. Por outro lado, os lucros que sustentam essas grandes empresas que prestam um serviço precário não podem ser esquecidas. Vide 2013, no próprio governo Fortunati/Melo.

Em contrapartida, temos a candidata que representa o PCdoB e que também carrega consigo uma carreira política de muitas lutas, vitórias e derrotas. Neste contexto, a sua imagem associada o termo “comunista” faz com que os mais lunáticos e fanáticos discípulos do presidente Jair Bolsonaro (Agora, apoiadores de Melo) os tratem como lixo e disseminem milhares de postagens mentirosas via redes sociais para impedir que Manuela d’ Àvila saia vencedora do 2º turno em Porto Alegre.

No entanto, penso que os fracassos do opositor em oferecer á cidade um serviço qualificado, e aqui estou falando de práticas e não ideologias, levam a crer que depositar a esperança nessa candidata é um dever de todo o cidadão porto-alegrense. Portanto, assim como depositamos nossa confiança nas velhas políticas que sempre foram vendidas como novas, agora é hora de uma mulher tentar mostrar que um governo municipal mais atuante e participativo é possível.  

Enfrentar a pandemia sem debater o tema meramente de forma ideológica e passar por cima desse negacionismo idiota oriundo do medíocre presidente e seu rebanho de alienados. Trabalhar pela gestão pública da Carris, objetivando baratear o preço das tarifas. A utilização da Parcerias Público-Privadas, que podem ser bem administradas pela futura prefeita em determinados setores. As propostas sobre as obras paralisadas, sobre as questões de educação, principalmente a infantil, acerca de creches.

São diversos os motivos que realmente fazem crer que uma mulher  jovem e corajosa possa, efetivamente, trabalhar por uma Porto Alegre melhor!

Dito isso, e consciente de que vivemos em um sistema democrático, deixo aberto a qualquer crítica, posicionamento ou questionamento acerca do que escrevi neste texto. Todos têm a liberdade de opinar, portanto, em Porto Alegre, no 2º turno é Manuela 65. Chega de atraso e de falta de alternativas...chega de muita lábia e pouca atitude!

Um pingo de esperança ainda habita o meu peito!

Manuela 65....

quinta-feira, 30 de julho de 2020

Desespero e Ideologia

Desespero e Ideologia

Não há qualquer dúvida de que o momento atual é temeroso, triste e cruel. Por um lado, percebe-se o desespero das pessoas que precisam tocar as suas atividades para garantir a subsistência de suas famílias. Em contra- partida, nos deparamos com diversos defensores de planos ideológicos que se encontram completamente deslocados do plano real e social no qual estamos inseridos.

Na atual conjuntura, não restam dúvidas de que não podemos nos excluir desse sistema medíocre e desigual em que viemos cotidianamente. A busca desenfreada pela sobrevivência leva milhares de pessoas, trabalhadoras (es) e pequenos empresários ao desespero. A labuta de cada dia para sustentar uma família passou a ser um grande desafio em momentos de pandemia, onde seguir determinado distanciamento social pode ser uma saída eficaz para estancar a ferida.

Nesse contexto, milhares de pessoas buscam, cotidianamente, alternativas que possam servir de opção para manter seus compromissos, bem como garantir as suas necessidades básicas. Muitos trabalhadores afastados de seus empregos encontraram formas alternativas de comercializarem produtos com pronta entrega e preços atrativos. São pessoas que fazem valer a pena suas vidas de luta, de cidadãos que sempre souberam enfrentar as diversidades ao longo da vida. Não tem como não admirar atitudes como essas que geram cada vez mais esperança de que as coisas possam mudar e tomar um rumo diferente.

Por outro lado, considerável porcentagem de pessoas passa o tempo todo defendendo seus políticos de estimação e criticando governos anteriores, difamando atitudes e opiniões de pessoas que realmente fazem a diferença. Nesse ínterim, ao invés de criar algo produtivo que possa suprir suas necessidades nesse momento tão delicado, perdem o seu precioso tempo postando besteiras em suas redes sociais como se fossem os donos da verdade e os mestres da moralidade.

Ora, é muito fácil ficar reclamando da vida, fazendo carreatas (Pasmem, sem sair de seus valiosos carros!), criticando decisões de governo quanto ao distanciamento social e colocando sua ideologia como se fosse a mais soberana e útil. Sentado na frente de um computador qualquer um realiza os seus desejos. Seja a menina que fica postando fotos sensuais, se achando modelo; seja os analfabetos funcionais a defender a “clorofina”, como se fossem médicos; enfim, seja os que sempre odiaram a politica querendo dar lição de moral sobre o tema, entre outros.

A banalização do conhecimento é uma consequência do uso desenfreado, desarticulado e criminoso das mídias de informação espalhada pelo mundo e pelas redes sociais. Qualquer mentira vira verdade; qualquer ignorante se transforma no maior conhecedor de todos os temas. Basta estar conectado a qualquer dispositivo que tenha internet para ser a perfeição em pessoa.

Em síntese, tem muita gente com tempo sobrando para ficar postando besteiras, disseminando falsas notícias e reclamando da vida nas redes sociais. Em quanto isso, as pessoas que realmente fazem a diferença estão procurando alternativas produtivas que possam efetivamente, gerar resultados. Pois é justamente neste tipo de pessoas e nestas atitudes que devemos nos apoiar para avançar em nossas conquistas e lutar por nossos sonhos e objetios. Então:

Quem sabe menos discursos e mais atitudes?

Quem sabe menos politicagem hipócrita e mais união?

Que tal gastar o precioso tempo com coisas produtivas?


quinta-feira, 9 de julho de 2020

Não quero que Bolsonaro morra!

Não quero que Bolsonaro morra!

Um dos assuntos mais comentados no Mundo foi sobre o fato de o presidente do Brasil testar positivo para o COVID-19. Se antes o mandatário se negava a mostrar os resultados dos seus exames para a imprensa e para a sociedade; agora, essa notícia cai como uma bomba e danifica os pilares de um governo já desacreditado e vivendo na sombra de um patriotismo completamente irresponsável.


Não me recordo de um governo federal tão desequilibrado, irresponsável e negligente como esse q
ue habita o Alvorada. Atualmente, o mundo tem se rendido ao medo da “arma de guerra da China” para garantir sua hegemonia econômica no mundo.

Não bastassem as idiotices e mentiras que os fanáticos costumam desfilar pelas redes sociais em apoio ao presidente Jair Bolsonaro; milhares, inclusive, fazendo carreatas e defendendo a abertura do comércio em todo país, agora seu maior “mito” aparece positivado para o vírus que, até então, era fictício. Diante de tal realidade, me coloco a tecer apenas dois, entre tantos outros, desse texto.

Em primeiro lugar, é sabido por todos que o número de mortes e de infectados no país pelo covid-19 aumentam em maiores proporções a cada dia. Neste contexto, políticas de governadores dos estados reduzindo aglomerações e promovendo o distanciamento social buscam, de fato, impedir o avanço da pandemia e evitar uma carnificina ainda maior. Estranhamente, um dos atuais conflitos institucionais envolvendo o Planalto e os governadores têm como centro as políticas para frear a atual pandemia.

Por outro lado, o irresponsável presidente da republica, que sempre usou a imprensa para debochar dos infectados e dos mortos com suas piadinhas ridículas nada fez para combater com seriedade esse grave problema de saúde publica. Apoiado por lunáticos inconsequentes e partidários ideologicamente ignorantes, o presidente promoveu aglomerações com apoiadores em um momento em que deveria respeitar a vida e as recomendações de saúde no mundo inteiro. O resultado não poderia ser outro: o irresponsável, debochado e negligente presidente brasileiro, com seus exemplos repugnantes, acabou contraindo o vírus em suas andanças.

Em segundo lugar: por que jamais desejaria a morte do presidente?

Porque desejo justamente ao contrario: que se recupere logo, “com seu físico de atleta”, e fique em plenas condições de saúde. Assim, poderá amadurecer enquanto mandatário e, a cima de tudo, como pessoa.

Mas não é apenas isso: que Jair Bolsonaro tenha saúde para refletir sobre todos os mortos e seus familiares que levarão essa ferida para o resto de suas vidas. Que mantenha seu porte físico de atleta para falar menos besteiras, incitar menos os seus fanáticos seguidores, e perceber as idiotices que falou e, em nome daqueles que ocupam os hospitais vítimas dessa pandemia, respeite a vida das pessoas.

Enfim, não quero que o presidente morra, jamais! Apenas lhe desejo saúde para arcar com todas as consequências de sua infantilidade enquanto presidente de um país de dimensões continentais como o Brasil em um momento tão crucial, crítico e importante como esse. E que pare de injetar o seu rebanho com deboches e piadas sem a menor conexão com a realidade dos fatos.


sexta-feira, 26 de junho de 2020

O zero quatro.

O zero quatro.

O Alfredo era um rapazote que hoje conta as suas cinco décadas e meia de vida. Até hoje caminha auxiliado por suas bebidas favoritas, como o inigualável Velho Barreiro e a sua preferida caninha 7 Campos de Piracicaba. Quando era mais jovem, lembro de tê-lo encontrado em algum dos famosos bares do centro de Porto Alegre cujo nome não me bate, nesse momento. Enfim, a história que segue é verídica e aconteceu por volta de 12 anos atrás.

Na rua onde vivemos por longos anos, havia uma família bem estabelecida financeiramente, gente que ainda possui posses, empresas, pés de laranja no quintal etc. Era um charmoso casal que contava seis filhos, todos eles bem servidos e mimados, como se o cordão umbilical ainda estivesse robusto, intacto. O “zero quatro” chamava – se Alfredo, o qual mencionei no início deste texto.  Não preciso me deter ao fato de que o apelido “zero quatro” surgiu pelo fato de Alfredo ser o quarto filho por ordem de nascimentos e que traz em seu livro de memórias um grande repertório de histórias mal contadas.

Pois que, aproximadamente uma década e meia atrás nos encontramos no centro da capital dos gaúchos. Era inverno e ambos estávamos cheios de roupas, acessórios a proteger a cabeça do frio e por aí vai. A famosa esquina democrática, ponto onde as pessoas berram com suas militâncias e cruzam correndo cotidianamente foi o local exato desse encontro.

Naquele contexto, havia alguns militantes levantando bandeiras e fazendo discursos acerca da necessidade de tirar de vez o aborto de nossas vidas e excluir esse “verme” definitivamente de nossa sociedade. Naquela ocasião, um homem caminhava em minha direção lendo um pequeno folhetinho em passos acelerados. Era o “zero quatro”, eu tinha a certeza! Pelo jeito rebolado de caminhar e pela forma estabanada de balançar as mãos, era ele: o “zero q

uatro”, o homem das histórias mais mentirosas de minha infância! Então acelerei os meus passos e resolvi abordá - lo.

_ Quantos anos “zero quatro”, como você está? E como vai a família?

Alfredo ficou assustado com a chamada e, com a voz ofegante, respondeu:

_Carlos, tudo bem! Que susto cara, aqui nesse centro não dá pra vacilar. Respondeu o “zero quarto” sem desacelerar o passo. Naquele momento, resolvemos partir para um lugar calmo, onde pudéssemos colocar nossa conversa de anos em dia. Então, foi o que fizemos em um bar localizado na Rua Riachuelo, algumas quadras acima.

Na verdade, Alfredo jamais gostou de ser chamado de “zero quatro”, um apelido que fora colocado por seu pai, num contexto nebuloso de sua vida, onde drogas, bebidas e mulheres completavam um verdadeiro cenário de perdição e desilusão. Além das grandes lembranças do passado, onde fazíamos tudo enquanto éramos jovens, conversamos sobre as atualidades, e discutimos nossas divergências políticas.

Naquele bar da Rua Riachuelo, um dos temas escolhidos para a nossa democrática conversa foi o do tal foro privilegiado, tão odiado pela família de Alfredo que o patriarca da família chegava a discutir com a esposa e filhos acerca deste tema. Esbravejando e completamente fora de si, Camilo, o pai do “zero quatro”, esperneava como uma criança que quer colo a todo o custo e berrava contra o tal do foro. Aos berros, dizia:

_ Isso é desculpa para proteger corruptos e saqueadores da pátria! É um instituto que protege vagabundos e criminosos que cagam e andam para o povo que os elegeu!

Durante a nossa conversa, até o “zero quatro” confessava que a raiva de seu pai era tanta que os gritos poderiam ser ouvidos da esquina. Inclusive, segundo ele, não foram poucas as vezes que vizinhos ameaçaram de chamar a polícia. Então, nossa conversa foi se aproximando do final, e Alfredo se despedia:

_ Hoje, o meu pai já não grita mais, o seu protegido político foi pego em maracutaias de toda a sorte e terá direito a esse foro privilegiado! Nos dias atuais, na verdade, a casa tem estado tranqüila, sem gritos e brigas! Sem autoritarismos, sabe? Parece que meu pai caiu na real e resolveu recomeçar a sua plantação de laranjas no quintal! Agente se vê por aí, Carlitos!

Então coloquei a boina e, enquanto me levantava para ir ao caixa pagar a conta:

_Esses moralistas!

_Há braços!

 

 

 

 

domingo, 14 de junho de 2020

O gângster da Havan ,apenas mais um.

 

O gângster da Havan ,apenas mais um.

Não chega a impressionar o fato de que as pessoas, não raras as vezes, colocam os grandes empresários em pedestais a ponto de idolatrá-los como se fossem verdadeiros heróis. O fato de gerar emprego faz de ti um exemplo a ser seguido?

Será, mesmo, que valorizar os “colaboradores” (Termo mais cretino para omitir toda a exploração que sofrem cotidianamente a nossa gente!) como se fossem objetos descartáveis faz jus a toda essa santificação em relação aos milionários que acumulam grande maioria de toda a renda neste país?

Ora, acreditem, na cabeça de grande parte da população, os empresários merecem todo o respeito e, acima de tudo, suas fortunas adquiridas a custo de muito trabalho merece ser preservada. Neste contexto, fico a imaginar os explorados que detestam, sempre odiaram, a política como se ela não determinasse os rumos de nossas vidas.

Por exemplo, os eleitores do atual presidente da república, que passam mais tempo ralando no serviço do que curtindo a vida ao lado dos familiares. Passam mais tempo levando chibatada, e sempre reclamando, como se fosse natural trabalhar bastante para receber um salário miserável no final do mês.

Para as pessoas que têm a memória mais fraca, o Messias Bolsonaro, antes de ser eleito o (des) Presidente tupiniquim, não se importou nem um pouco em reunir grandes empresários para financiarem e organizarem a sua campanha política. Como negar que a política está presente nos rumos de nossas vidas? Só perceber, o termo “Trabalhador” está fora de relevância para a atual gestão, que não nega sua preocupação com os grandes empresários. Vide os discursos toscos de Paulo Guedes o ministro das cifras.


Na verdade, queria chegar na impressionante notícia das criminosas sonegações fiscais da Havan, empresa controlada por um tal de “velho”, que lavou a égua nos governos petistas e pasmem: agora balança no cordão do atual governo e critica as gestões anteriores de Lula e Dilma. Interessante isso, não!

Segundo informações, o gângster Luciano Hang, vulgo “Velho da Havan”, teria sonegado quase 2,5 milhões. Ora, isso é um dinheiro considerável se levarmos em conta que essa canalhice terá de ser arcada por mim, por você, e por todos que trabalham honestamente para garantir as suas próprias subsistências e a de suas famílias.

Por fim, a Havan é apenas mais uma entre milhares de empresas que sonegam impostos no Brasil. Equiparam – se, assim, a verdadeiras facções criminosas, apenas sustentando atuações em ramos diferentes. Logo, tem gângster por todos os lados. São esses empresários que pagam salários miseráveis para seus trabalhadores ao mesmo tempo em que se atolam em crimes tributários e financiam toda a sujeira política de forma a sustentar os seus interesses dentro do Brasil. A criminalidade está em diversas formas e não é possível que a imagem de um furto te impressione mais do que os gigantescos crimes cometidos por bandidos bem apresentados e moralmente idolatrados com a fachada de “Empresários”.