Os cabelos de João e o racismo midiático.
Não
é de hoje que atos de preconceito e atitudes racistas têm aparecido com mais frequência
em nossa sociedade. Com cada vez mais força, as piadas que exalam discriminação
vem ganhando força em nosso meio. A fala de ontem de João, integrante do
reality BBB21, deixou muito claro que muitas pessoas sofrem por serem vítimas
do preconceito, seja ele através de atitudes, seja através de piadas.
Quando
eu era pequeno, ouvia piadas bem populares que ofendiam as pessoas negras, bem
como negligenciavam a sua própria existência. É novidade pra você?
“Você
está andando pela rua e, na esquina, têm um negro dentro de um Fusca bebendo
uma Kaiser. O que você vê?”
Chega
a ser repugnante o final dessa piada besta e extremamente racista. No entanto,
para os apologistas e defensores do “eu não tive a intenção” parece algo dentro
da normalidade, onde tudo não passa de uma brincadeira e “todos” se divertem.
Pois
que os cabelos de João trouxeram de forma aberta e escancarada uma das maneiras
pelas quais o preconceito resiste com êxito em nossa sociedade. Ora, qualquer
cabeça poderia ser vitimada com uma piada e qualquer cabelo poderia ser zoado
em uma brincadeira ou momento de diversão.
Então
fica a pergunta: por que os cabelos de João?
Respondo!
Pelo mesmo motivo que muitos preconceituosos e racistas gostam de dizer por aí,
sem o menor ressentimento: “coisa de negrão”!
Neste
contexto, fica comprovada a naturalização de piadas e uso generalizado de ditos
racistas que colocam a condição dos cidadãos negros como inferiores. Não bastasse
isso, quando ocorre uma reação, como foi o caso de ontem, por meio de lágrimas
e palavras de repúdio, muitas pessoas restam por criticar a vítima com o
argumento de que ela esteja fazendo “mimimi” ou esteja exagerando em suas
atitudes.
O
retrocesso de nossa sociedade é tão deplorável que um negro sofre preconceito
ao vivo e a cores e os arautos da moralidade o crucificam por sua reação. As
pessoas são tão coniventes com atitudes de piadas preconceituosas e racistas
que são incapazes de se colocarem no lugar de quem sofre o preconceito, mas
julgam as suas lágrimas e sua reação frente à tamanha ofensa à sua existência.
Enfim,
o “eu não tive a intenção” coloca cada tijolo na construção dessa muralha que é
o racismo no Brasil. Os que contam as piadas que se propagam ao longo do tempo
como naturais negando a igualdade aos cidadãos negros do mundo, ofendendo –
lhes a honra e assassinando as suas existências acabam por alimentar essa
poderosa discriminação racial e a toda a formação de desigualdade social que
vivemos hoje.