quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Vinho e solidão!

Nada como o tempo
   Os sonhos e as palavras voam
      Caminham em direção ao vento...

Nada como o vento
   Que tempera e alimenta saudade
      De solidão vive o alento...

Nada como o tempero
De desejar teus abraços e beijos
E na falta disso: desespero...

Desespero por não te ter
Mesmo assim; respirar, viver!

Desespero por te desejar
Mesmo assim: não mais que sonhar!

Sonhar num dia teus traços
   Confortar com vinho e solidão
      Pra amanhã seguir os teus passos!

Sonhar a vida e crença...
   Por ser teu desejo bonito
      E quando acordar: viver esta doença!

Porto Alegre, 08/01/2015


terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Quem vai pagar a minha conta?

     Gilberto era uma camarada gente fina. Adorava jogar seu futebol aos finais de semana e trabalhava como auxiliar administrativo ( Grande tática dos porcos capitalistas para pagar uma merreca para quem já é diplomado em Administração de Empresas!) em uma empresa de cosméticos. Normalmente chegava em casa altas horas da noite, cansado ao extremo! O trabalho escravo o destroçava a cada dia! Muitas vezes, nem conseguia conversar com sua companheira sobre como foi o dia, ou mesmo perguntar se ela acreditava neste papo de "Sou Charlie" pra lá e "Sou Charlie pra lá".
     Nos últimos dias, Gilberto andava lentamente pelas ruas, cabisbaixo, e evitava determinados assuntos com determinadas pessoas. Um destes determinados assuntos era política. Dizia - se por entre os frequentadores de seus círculos que o homem não era de negar assunto, qualquer que fosse Então, andava tão cabreiro e decepcionado que nem mesmo quis conversar com os seus colegas de trabalho sobre a última façanha do cara que venceu o pleito para governador do Estado.
     Por simples curiosidade, grande maioria destes colegas de trabalho fizeram um acordo que ficara definido que todos deveriam votar no mesmo candidato para chefiar o governo aqui pras bandas do sul. Como resultado de toda essa campanha, o candidato desejado venceu de lavada o seu concorrente.
     Mas o babado era simples: o tal governador andou lançando sua contribuição para que uma " muvuca de espertos demais" pudesse ganhar um pouco mais, mesmo que nada exerçam de tão representativo assim, nos dias atuais. Ou seja, Gilberto falava em altíssimo som, para que todos pudessem ouvir:
     _ Ora bolas, não votei em capachos e incompetentes que ridicularizam seus próprios discursos de campanha com seus atos negligentes e desprovidos de vergonha!
     Sua companheira procurava o consolar lançando ensaios em tons cada vez mais críticos para que o marido pudesse refletir mais sobre o contexto. Durante a janta de uma noite qualquer, ela serviu um prato de massa e uma taça de vinho tinto ao marido. Com a voz estremecida, desatou a falar:
     _ Meu amor, até parece que você não sabe que todo esse papo de representatividade, no Brasil, é falácia de quem pede voto para representar a si próprio! As pessoas representam apenas aqueles que colocam grana preta em campanhas, comícios e outros destinos nebulosos.
     A mulher parece ter perdido a vergonha frente ao marido. Nunca teve tamanha liberdade e empolgação para discursar sobre assuntos que o próprio Gilberto jamais imaginava que ela teria capacidade. Para ele, a política seria assunto de homem, ainda que conseguisse perceber que a participação das mulheres viesse, cada vez mais, crescendo com o passar dos anos.
     Mais uma vez, voltou - se ao marido:
     _ E você não lembra a Geovana, aquela nossa vizinha bonita e inteligente, que saiu a fazer propaganda eleitoral sem saber nada das propostas de campanha daquele candidato ficha suja, mas com a certeza dos R$ 50,00 diários no bolso! Então, que representação maldita é essa? Diga - me!
     Gilberto silenciou por completo e entrou na cozinha para passar um café bem forte! Bebeu como se fosse água. E assim os dias foram passando, as horas se arrastando e cada momento se transformava numa eternidade.
     Poucos dias depois, a discussão volta com mais força entre ela e sua esposa:
     _ Gilberto, você viu o que o governador está a blasfemar neste lixo desta mídia hipócrita e manipuladora?
     O homem balançou a cabeça fazendo lentamente um sinal de negatividade.
     _ Então veja isso!
     Alcançou o jornal amassado e fedorento ao marido, que largou tudo o que estava fazendo para se inteirar do assunto. Naquele mesmo instante, ele percebeu o quanto se arrependera do seu voto! Pensou, também, em todos os seus colegas que fizeram acordos para eleger uma pessoa que não sabia o que fazer, onde fazer e pra quê fazer.
     No dia seguinte, ao chegar ao trabalho, Gilberto dirigiu - se aos companheiros com a voz rouca, em baixo tom:
     _ Vocês atentaram para o que está acontecendo no cenário político? Viram o que o gringo está fazendo sem mesmo fechar um miserável mês de governo? Pois é...
     Acomodou - se a um canto da sala e aproximou - se da janela. O escritório localizava - se no centro da cidade, de onde era possível avistar a parte superior do Palácio Piratini. Por entre pensamentos e olhos fulminantes em direção ao palácio governamental:
     _ De tantas porcarias que fiz e dúvidas que tenho: quem vai pagar a minha conta?
   

    

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Feliz Ano Novo!

             As festas de final de ano trazem consigo uma magia que contagia as pessoas de forma que elas fiquem com os sentimentos demasiadamente exaltados. Por entre goles, músicas e confraternizações, todos querem o bem de todos, assim como todos desejam sorte, saúde e paz! Por certo, também ainda é parte da cultura desejar “dinheiro”; afinal, ainda estamos vivendo sobre este sistema que explora trabalhadores, detona os resquícios de união familiar que ainda resiste em nosso meio social, enriquece os patrões e troca o sangue por interesses exclusivamente comerciais.
           No campo político, parece certo que os discursos permanecerão mais criativos, ainda que a prática esteja tão complicada quanto catar coquinho no asfalto. Os nossos “representantes” estão a tomar posse de seus cargos prometendo mundos” e “fundos”. O que esperar ? Que o novo ano melhore a situação da nossa sociedade, como se fosse o principal ator envolvido nesta engrenagem maluca que nos leva e nos traz diariamente? Tudo parece muito mais utopia do que realidade, na medida em que as mudanças dependem das pessoas e grande maioria delas não está nem interessada no que acontece fora de sua vida!
           E na segurança, saúde e educação? Pensar nisso tudo parece buscar uma loucura que ainda não possuímos, internamente. Pensar nestes três campos em um sistema como o nosso é ter a certeza de que a pólvora continuará matando, enquanto a violência expande seu campo de atuação por toda a sociedade. Vide as ramificações do tráfico de drogas, com toda a cobertura que o próprio Estado oferece! Mais?
           Percebam a farra do pó que ocorreu, recentemente, dentro de um presídio, em Porto Alegre! Também refletir sobre o problema da saúde e toda a carência de investimentos, bem como a negligência dos poderes desta devastada república nos indicam um cenário cruel, como se a vida fosse um pedaço de papel rasgado ou uma sucata qualquer! Quanto à educação, tivemos a oportunidade de ver o discurso de posse da presidente Dilma! Como sempre os eleitos costumam fazer, ela fala na educação como prioridade de sua segunda gestão. Então, questionamos: como será o tratamento dado aos professores, que merecem uma atenção infinitamente melhor, neste contexto? E as escolas, que recebem milhares de estudantes em condições precárias?
             Por fim, o que estaremos ensinando aos nossos alunos nestes dias que virão? Ensinaremos coisas inúteis, que em nada influenciará em sua formação em quanto cidadão e que muito contribui para o sistema (desigual) em vigor, ou seremos competentes para quebrar os protocolos conservadores em busca de uma sociedade realmente moderna, longe de facetas medievalescas como, infelizmente, podemos perceber nos dias de hoje?              Então, que brindemos àquilo que ainda é uma incógnita: o ano novo! Brindemos com a certeza de que a ano só será efetivamente novo se renovarmos nossas posturas e atitudes. Se pensarmos (Não apenas isso, mas também buscarmos algumas mudanças que nos pareçam necessárias...) em práticas que tivemos que não foram produtivas e por aí vai. Caso contrário, o ano será eternamente velho e continuaremos a desejar e esperar que os 365 dias vindouros vivam por nós, como se possível fosse.