quarta-feira, 27 de abril de 2022

Lugar de criança.

            Lugar de criança. 

Há um tempo atrás, estava guiando o meu automóvel pela avenida Ipiranga, uma das vias mais movimentadas da cidade. Com o trânsito extremamente agitado no horário de pico, o sinal vermelho atacou e um carro de grandes proporções parou ao meu lado. Curioso pelo aspecto “extraterrestre” daquela engenhoca móvel, virei o pescoço pro lado com a intenção de dar aquela olhadinha básica, de soslaio. Para a minha “surpresa”, dois adesivos enfeitavam a lateral direita daquele veículo. 

O primeiro adesivo trazia a seguinte afirmativa: Lugar de criança é na escola! 

Parece – me claro que toda criança merece ser educada e treinada para adquirir conhecimentos diversos e úteis para sua vida enquanto pessoas em desenvolvimento e cidadãs do futuro. No entanto, não me parece justificável fazer propaganda sobre um tema tão complexo em um momento em que milhares de pessoas morrem por consequências de uma pandemia que ainda não acabou e já deixou muitas marcas de dor e tristeza por onde passou. 

Apenas para fins de esclarecimentos, este fato ocorreu há cerca de meio ano, quando o processo de vacinação ainda era lento e o índice de mortes elevado proporcionalmente. No entanto, ainda é possível circular pela cidade e observar que muitas pessoas ainda ostentam esses dizeres em seus veículos, estampas nas camisetas etc.. 

Nesse contexto, o lugar da criança acaba por deixar de ser o lar, deixa de ser ao lado da família e passa a ser a escola. Se pararmos para refletir, a negligência dos pais acaba por atribuir à escola e aos professores a obrigação de criação dos filhos. 

Os pais da modernidade, sem generalizações, não querem estudar ou ajudar os filhos com os temas de casa. O processo de integração se dissolve rapidamente! Repara, sempre tem uma reunião no trabalho, excesso de tarefas e por aí se constroem milhares de desculpas para justificar essa ausência. Não satisfeitos, os pais da atualidade compram games e aparelhos de telefone celulares das melhores marcas para entreter os filhos. Perde – se a relação afetiva, tão importante nesse momento de desenvolvimento das crianças e adolescentes em prol das modernidades mecânicas. 

No entanto, sabemos que a real intenção é afastar os filhos em prol do descanso, do “não incomoda”! Sempre haverá uma desculpa ou justificativa. Assim, parece claro que para esse tipo de pai ou para esse tipo de mãe o lugar de criança é realmente na escola.  

Retornando ao trânsito na avenida Ipiranga, o segundo adesivo daquele carro importado tinha um fundo em verde e amarelo com os dizeres: pátria, família e liberdade! Com certeza minha comparação foi direta em relação ao termo “família”. Ora, os filhos, até onde eu sei, são parte das famílias e as compõem; a menos que esses negacionistas lunáticos (Tão em moda neste país tropical!) venham aqui e me desmintam. 

Ou seja, o ideal da família burguesa é defender a família sem saber o real significado deste termo e sua importância enquanto instituição! O ideal dos pais afortunados é buscar cada vez mais recursos financeiros que possam pagar por sua ausência, por sua negligência. Enfim, buscar recursos que paguem o abandono do acompanhamento do crescimento físico, psicológico e social dos filhos.  

Por fim, essas pessoas que desfilam moralismos baratos e fazem propagandas desprezíveis como esta que tive o desprazer de presenciar só pensam no seu próprio umbigo, nos seus lucros, nas suas posses e nas suas fortunas! No momento em que a defesa de que lugar de criança é na escola e não com a família é feita com tanta força, resta destruído o sentido do termo família. Não é por acaso que os defensores dessas ideias vivem em luxuosos apartamentos nos bairros mais nobres das cidades e são concentradores de renda em potencial neste país onde as desigualdades sociais e econômicas são tão gritantes.  

 

quarta-feira, 13 de abril de 2022

A globalização da miséria.

    O desenvolvimento histórico do Estado tem encontrado entre os seus  principais atributos a limitação da ação humana.  Desde o Estado de natureza, os teóricos do pensamento político têm feito muito esforço para apresentar a forma com se estrutura, bem como a forma de atuação do Estado.  

    Nesse sentido,  o que esperar do Estado moderno?

    Tal questão torna-se ainda mais relevante no momento em que vivemos um processo de globalização, que gera uma considerável quebra de barreiras para os mercados ao mesmo tempo em que dissemina desigualdades sociais, acumulação de capital, miséria e pobreza por todos os cantos do mundo. Assim, a questão envolvendo o estado torna-se ainda mais relevante, uma vez comprovado que a economia jamais andará por si só, como defendia A. SMITH.
    Por volta dos anos 90, o desaparecimento do comunismo deu espaço para que o sistema capitalista se estabelecesse com soberania.  Nesse processo, os Estados nacionais formularam suas políticas econômicas pautadas em uma expansão cada vez mais tecnológica e global desse sistema.  Assim, a promessa de que o capitalismo seria uma grande salvação para os problemas globais aparece com cada vez mais ímpeto. 
    Neste contexto, fica difícil imaginar a globalização apenas como uma interpretação do que está ocorrendo no mundo. As consequências do processo de expansão da economia global são muito graves, especialmente enquanto tratamos de questões sociais como o desemprego, a fome, a miséria e outros.
    É nessa conjuntura que a ação do Estado precisa ser mais eficaz enquanto órgão regulador da sociedade contemporânea.  Assim,  espera-se que o estado permita a expansão da globalização,  mas sem abdicar de políticas de combate às desigualdades sociais em seu seio.
    A democracia liberal em sua ênfase no mercado privado não podem acarretar no desaparecimento do estado. Até porque, em momento de crise financeira e global, é no estado sustentado pelo contribuinte que o sistema capitalista encontra amparo. Um dos exemplos se mencionar é a crise de 2008, que atingiu a bolha imobiliária nos EUA e a espalhou pelo mundo.
    Em momentos de glória do capitalismo, o que se percebe é a concentração de riqueza nas mãos de uma minoria. Conforme relatório da ONU , em 1999, o crescimento econômico somente beneficiou os 10% mais ricos da população do EUA. Nos dias de hoje, a globalização da economia e o neoliberalismo  provocam diversos males as sociedades tais como desigualdade social, extinção de direitos, danos ao meio ambiente e outros.
    Em síntese,  não há que se falar em fim do Estado moderno; mas ,sim, o seu fortalecimento para que possa reduzir a ganância desenfreada dos capitalistas através de políticas tributárias mais justas e planos estruturais para reduzir a concentração de renda, permitir que os trabalhadores tenham condições mais dignas de vida e os miseráveis tenham um prato de comida na mesa.