sábado, 20 de fevereiro de 2021

Saudades da várzea e daquele futebol pegado!

 
Saudades da várzea e daquele futebol pegado!

O futebol de várzea é um ramo desse esporte que encanta comunidades, acirra disputas e, também, projeta muitas amizades. Não há como esquecer aquela chuteira sem trava e toda a poeira que vai parar na cara do adversário em qualquer disputa. Mas nem tudo são flores no esporte amador. Qualquer cruzamento para a área pode levar os concorrentes a uma lesão mais forte. Pois este texto tratará de uma saudosa lembrança de um fato ocorrido comigo dentro das quatro linhas.

Há alguns anos, eu atuava como lateral esquerdo em um time amador chamado Fecha Copa. Jogávamos amistosos todos os finais de semana em tradicionais campos de várzea, entre outros, como o localizado na praça Tamandaré, bairro Petrópolis; ou no Araribóia, cercanias do bairro Jardim Botânico, ambos na cidade de Porto Alegre. Não era apenas isso, algumas vezes disputávamos o campeonato muito popular que acontecia todos os anos na praça Tamandaré, no qual participavam diversas equipes que também realizavam amistosos naquele campo, apesar de se constituírem em outros bairros da cidade.

Sempre que me pego a lembrar dessa época, me passa um filme na cabeça. Desde a chegada na praça, onde muitos ocupantes do lugar tomavam a sua cerveja e assavam o seu churrasco enquanto a bola não rolava, até o final da tarde, quando o sol partia. Famílias inteiras, muitas vezes, com suas crianças e seus peludinhos de estimação. Não importava o horário, ás vezes às 11 horas da manhã; outras, as 15 horas, com o sol rachando.

E muitas pessoas ainda tem a coragem de dizer que futebol amador é para os fracos!

Certa feita, em um dos campeonatos que estávamos concorrendo, uma disputa no alto em um lance de área me levou ao Pronto Socorro. Ainda lembro como se fosse hoje: o adversário foi cobrar um escanteio. A cobrança não apenas levantou a areia do corner mas provocou uma agitação forte entre atacantes e marcadores dentro da área.

Neste contexto, a bola ganha grande altura, eu corro em direção a ela e salto para tentar efetuar um cabeceio e, conseqüentemente, afastar o perigo. Jamais esquecerei a poeira levantando em cada corre e trava para marcar e ser desmarcado. Os gritos vindos da beira do campo, através dos atletas reservas e técnicos, ainda estão intactos aqui nos meus ouvidos: “Pega, Guinei, o 8! Pega o 8, po...”!

Voltando ao lance, quem me conhece sabe que não porte para disputar bolas alçadas na área, mas algumas vezes eu precisava ajudar a defesa. Foi aí que consegui me antecipar e quando fui tirar a bola com a cabeça o atacante adversário me deslocou com as costas e me arremessou para cima. Foi uma cama de gato tão forte que meu corpo ganhou altura o suficiente para despencar naquele solo quente e arenoso e deslocar o braço do seu lugar natural.

Foi uma jogada isolada, mas a verdade é que não tive sucesso ao tentar colocar o braço no lugar por conta própria, como já o tinha feito algumas vezes com êxito. Assim, permaneci algum tempo com fortes dores segurando o braço esquerdo, que estava deslocado, com direito. Após um tempo, uma amiga me levou ao Hospital de Pronto Socorro, onde o médico me deu duas informações rápidas enquanto colocava o braço de volta no seu devido lugar.

Enfim, apesar desse fato, que me causou bastante dor, ainda tenho muita saudade daquele futebol disputado que jogávamos na várzea. Às vezes havia desavenças dentro do campo que era resolvida fora dele, com pessoas que valorizavam as amizades, as parcerias e esse grande ritual chamado futebol de várzea. O tempo passou, o jamais tive problemas com o meu braço, mas ficou a saudade dos gritos, das disputas e das corridas em meio a chuteiras sem trava e de areia pra todo o lado!

Saudades da várzea e daquele futebol pegado!