quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

A tempestade!

A tempestade!

Era por volta das 22h30min do dia 16 de janeiro de 2024, jamais esquecerei. Uma forte tempestade atingiu a nossa querida capital. A ventania e a grande quantidade de chuva arrasaram a cidade e provocaram diversos estragos que se espalharam não apenas por Porto Alegre, mas em diversas regiões do estado.

A cena era de filme: pelo corte no piso de concreto que dá acesso ao sótão da minha casa, avistei o vazio deixado por uma telha que havia voado devido à força dos ventos. Ato contínuo, encostei a escada portátil, feita toda em alumínio, e subi correndo a fim de pegar uma telha reserva para tentar adaptar com a intenção de impedir que outras telhas também voassem. Talvez o meu querido leitor não consiga imaginar tamanho o barulho que fazia naquele sótão; literalmente, eu estava no meio de um tornado, protegido por uma camada de telhas e nada mais!

Neste contexto, peguei um pequeno banquinho e investi com a telha reserva na mão para tentar estancar a entrada de vento pela parte de cima. Quando subi no banco e olhei para cima, eu vi a fúria da natureza! Eu vi apenas a água vindo com muita força de encontro ao meu rosto e os ventos ameaçadores me dizendo: “desce daí”. A impressão que eu tinha é que estava sendo protagonista destes filmes gringos que costumam retratar fenômenos naturais extremos!

As rajadas de vento eram muito fortes e barulhentas, colidiam com muita força sobre a parte superior da casa! Os pingos da chuva dançavam por todos os lados, não havia onde se esconder, era amedrontador!

De repente, uma rajada fortíssima colidiu com toda a estrutura do telhado e um forte estrondo me veio aos ouvidos. Foi nesse momento que minha companheira, lá de baixo, aos prantos, gritava pra eu descer de lá rápido que “tudo ia voar”! Apesar de todo o medo e do pavor, consegui, rapidamente, colocar a mão para fora do telhado e encaixar a telha da forma que foi possível. Aquilo foi assustador!

Quando desci a escada e coloquei o tampão que fecha o acesso ao sótão, parecia que eu estava adentrando em outro mundo, com uma nova chance de viver! Os barulhos haviam diminuído consideravelmente, pelo menos na parte interna da casa. No entanto, de repente, um forte estrondo veio da parte da cozinha, uma construção alheia à parte original da residência. Àquela altura, já estávamos sem luz há tempos e a água começou a escorrer com força a ponto de tomar conta da peça.

Em momentos extremos, parece que o nosso corpo não consegue reagir; nossa mente parece demorar a perceber ao que de fato está acontecendo. Permaneci por longo tempo empurrando a água como o rodo, sem perceber que colocar baldes e bacias poderia ajudar a conter o grande volume de água que adentrava pelo telhado.

No outro dia, foi possível ver de perto os estragos causados por aquela inesquecível tempestade. Um enorme pedaço te telha soltou de um dos prédios da vizinhança e cravou sobre o telhado da cozinha, causando todo o estrago que relatei acima. A rua estava completamente irreconhecível, com pedaços de árvores por todos os lados e entulhos por toda a parte.

Então o leitor deve estar se perguntando: por que ele está escrevendo sobre isso quase um mês após aquele evento climático extremo?

Respondo: todos os dias, eu passo por diversos pontos da cidade e sempre observo que ainda estão presentes as árvores caídas, os fios elétricos expostos e os entulhos que não foram retirados pelo incompetente poder público. Não chega a surpreender, na hora de dizimar a natureza para beneficiar o capital tudo é feito rapidamente; no entanto, quando eventos desta natureza acontecem, o poder público chega ao escroto ponto de mendigar serra elétrica junto à população para “limpar” a cidade. Simplesmente, bizarro!