Eu
falo com Deus!
Certa
feita, Adamastor entrou correndo pelos corredores da faculdade!
Estava
atrasado em, pelo menos, 20 minutos. Ao abrir a porta, deu de cara com a
professora vestindo uma saia bem curta e um decote de cor cinza. Chamava – se Thamires
e carregava nas costas o peso dos seus 36 anos de idade.
Naquela
ocasião, o tema posto em debate tratava sobre as diversas formas que os
governos se utilizavam para manter sua popularidade sempre por cima, dessa
forma, impedindo que a oposição pudesse interferir negativamente na gestão.
Ainda que muitos estudantes não aprovassem o tema, era um assunto que gerava
muitos debates e acaloradas discussões nos corredores da academia.
Após
entrar na sala, Adamastor bateu a porta e, nesse exato momento, Thamires virou –
se para ele e questionou o motivo do atraso: “o senhor está atrasado seu
Adamastor, posso saber o motivo?”
O
olhar ríspido da professora não intimidou o aluno, que dirigiu – se à sua
cadeira, largou o seu material ao mesmo tempo em que despencava seus braços
gordos sobre a mesa. Com a voz rouca e a respiração ofegante, o jovem Adamastor
respondeu:
_
Estava falando com Deus!
_ Como
assim, senhor? Retrucou a professora, diante do olhar espantado de todos os
mais de 60 alunos que compunham a disciplina de História da Arte.
_ “Eu trouxe, na minha pasta, a cura da
pandemia que tanto tem ceifado vidas e destruído famílias no mundo inteiro.
Tenho andado por muitos anos no caminho da fé, sou pai de três filhos e não
estou aqui para perder o meu tempo com brincadeiras! Saibas, Thamires, que Deus
fala comigo desde longa data, para não dizer desde a minha infância, quando o
encontrei pela primeira vez trepando em uma pitangueira.”
Um clima de pavor tomou conta da turma, ao mesmo
tempo em que a discussão entre aluno e professora se encaminhava para um tom
mais combativo. Os demais alunos, discretamente, levantavam suas cabeças e
olhavam de soslaio para os interlocutores. Thamires estava assustada com o tom
do discurso de Adamastor, observando a agressividade que começava a tomar conta
do seu aluno.
Adamastor seguiu, já completamente fora de
controle, com o dedo em riste:
“Deus quer mudar esse País. Deus quer te exaltar
na presença de todos os povos e nações.
Neste contexto, a turma inteira já não entendia
mais nada, e todos só queriam que o tempo passasse e que aquele encontro
terminasse logo. Ao contrário, cada segundo se tornou uma eternidade e aquela
aula começava a ganhar ares de um culto religioso. Ao longo do seu eterno
discurso, Adamastor trouxe temas importantes como política e religião, ambos
como se siameses fossem. Não apenas isso, buscou de todas as maneiras,
comprovar aquilo que reis absolutistas defendiam no passado: Deus estava entre
nós, encarnado na pessoa do chefe supremo da nação!
_ “Deus acima de tudo”, bradava Adamastor!
Enfim, a aula se encaminhava para o final com
toda a já conhecida agitação dos jovens quando o tempo começava a se esgotar. O
calor tomara conta de todos, principalmente do aluno que discursara agressivamente
ao longo de mais da metade do encontro. Ao tirar sua jaqueta preta em tom
desbotado, Adasmastor apresentava como vestimenta uma camiseta preta com a cara
do presidente estampada com os dizeres: #fechadocombolsonaro.
Então, a turma toda entendeu o enredo, os
estudantes balançaram as suas cabeças e foram embora, na esperança de dias
melhores.
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