Parece que ainda está longe de ser resolvida a
questão dos valores referentes às passagens no transporte público de Porto
Alegre.
Ainda que as grandes mobilizações tenham conseguido
uma redução de R$ 3.05 para R$ 2.85, os manifestantes continuam na luta por um
valor que seria o mais justo. Segundo análises oficiais, este valor estaria
calculado em R$ 2,60.
Neste contexto, gostaria de abordar duas questões que
me parecem bastante relevantes. A primeira delas traz aquela que vai tratar das
pessoas que fizeram parte deste movimento pela redução nos valores cobrados
pelas passagens na capital gaúcha. Em segundo, gostaria de fazer uma referência
aos “penetras do movimento”.
Nos últimos dias, milhares de jovens estudantes,
trabalhadores e muitos simpatizantes foram às ruas de Porto Alegre reivindicar
soluções para um transporte público de qualidade e mais justo. Desta forma,
merece grande consideração a organização do movimento, que teve nas redes
sociais uma grande mobilização.
Mas não ficou por aí, o movimento jamais ficou
restrito às redes sociais; muito pelo contrário, os manifestantes ocuparam ruas
e avenidas da cidade, trazendo transtornos para a população e transformando
este movimento em dos maiores já vistos aqui em Porto Alegre.
A força e legitimidade do movimento ficaram evidentes
na forma como as pessoas recebiam os protestantes das janelas de seus
apartamentos, com gesticulações e acenos de positividade, e curiosos que
sacavam suas máquinas para tirar fotografias do evento. Daí uma grande prova
de aceitação por parte dos simpatizantes
que acompanhavam à distancia à mobilização.
Em entrevista ao caderno Cultura, do jornal Zero
Hora, de ontem, o Sociólogo francês, Michel Maffesoli teceu alguns comentários
sobre as manifestações em Porto Alegre.
Segundo ele a questão emocional estaria muito mais
presente em grandes mobilizações do que o racionalismo. Ou seja, é possível que
muitos manifestantes estivessem presentes movimentados emocionalmente por uma
busca coletiva de um benefício comum. Segundo Maffesoli:
“Tudo vai ser ocasião, pretexto, para essas grandes
indignações coletivas, porque o ar do tempo é emocional. O imaginário está
mudando”.
Pois é justamente este imaginário que talvez esteja
trazendo um pouco mais de esperança a um grupo de pessoas que sempre teve sua
imagem apagada pelas grandes formas dominantes de concentrar o poder. Os
estudantes, atores de tantos movimentos de outrora, parecem voltar a uma cena
que andava sendo deixada de lado pela grande mídia e seus interesses: as
mobilizações sociais!
Por fim, impossível não retratar um ponto
extremamente negativo de uma manifestação que tinha tudo para sair sem maiores
transtornos. Aqui, gostaria de tratar dos “penetras do movimento”. Mas quem
seriam estas pessoas?
Ora, dificilmente conseguiríamos identificar os seus
grupos ou qual as suas reais intenções junto às manifestações ocorridas nos
últimos dias. O fato é que, pelas suas atitudes, com certeza não se juntaram à
grande maioria para reivindicar algo. Ao contrário, seus atos de vandalismos,
como depredações e pichações, deixaram os próprios organizadores e
participantes do movimento com forte sentimento de reprovação. Em outras
palavras, parece claro que estes vândalos se aproveitaram da grande comoção
popular e se infiltraram na multidão para promover desordens de toda a sorte,
recebendo, inclusive, vaias de todos os cantos do movimento.
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