Recentes
casos de criminalidade, abusos policiais e repressão, têm apavorado moradores
que residem em locais periféricos das grandes cidades. A incursão de policiais
em busca de drogas e traficantes tem se tornado o principal argumento para
justificar mortes que, muitas vezes, não encontram quaisquer relações com delinqüentes
ou afins. Neste sentido, parece relevante pensar sobre o que tipo de trabalho os
órgãos de segurança estão fazendo no sentido de caminhar em direção a uma
sociedade onde a criminalidade seja efetivamente reduzida, assim como o tráfico
de entorpecentes e o consumo de drogas. Uma primeira questão: a entrada de
drogas e armas no país.
Ora,
os gestores de segurança pública, apoiados por estudos, grandes aparatos
informativos e tecnológicos internacionais, conseguem realizar um monitoramento
das principais rotas de tráfico na América, por exemplo. Desta maneira, mesmo
assim, os narcotraficantes conseguem manter uma hegemonia nas fronteiras de
forma a anular a atuação do Estado, que parece ser despresível. Como resultado
disso, a fronteira vira uma passarela, onde as drogas e os armamentos pesados
desfilam sem qualquer impedimento por parte das forças armadas.
Então,
como o Estado atua nesta teia de considerável prejudicidade social? Invade
favelas, pois imagina que as drogas e as armas estejam nas mãos de pessoas
pobres e humildes, muitas vezes denominadas "traficantes". Enquanto
isso, os burgueses dos bairros mais nobres consomem a sua maconha e dão os seus
"tequinhos", ao som de MPB e imagens do futebol.
Ou
seja, o Estado não ataca a raiz do problema, por quê? A resposta a esta
pergunta está cada vez mais distante de qualquer interpretação ou suposição. Uma
segunda questão:
O
Estado negligencia as camadas mais populares em favor da burguesia. Como assim?
Simples, operações de rotina com tiros e abordagens são realizadas em becos e
favelas pelo país inteiro, mas as mansões e apartamentos luxuosos da Bela Vista
e afins continuam intocáveis. A presença da polícia em bairros nobres só
acontece quando ocorre alguma ocorrência ou uma possível ronda, mediante
pagamento ou pelo fato de alguém ser conhecido dos policiais ou algo do tipo.
Então,
os pobres são alvo fácil de um Estado que mata, muitas vezes, pessoas inocentes
com o argumento de que está protegendo a sociedade do tráfico de drogas e todo
o seu código de ação. Desculpem a ignorância, mas por que o Estado não realiza trabalhos
permanentes e competentes nas fronteiras para impedir que as drogas entrem no
Brasil? Feito isso, não haveria a necessidade de invadir favelas e tomar boca
de fumos. Feito isso, parece que seria complicado para os filhos das elites
cegas sustentarem as suas festinhas regadas a mulheres, bebidas e drogas. Não
seria este último o maior problema, percebendo que estamos falando de um Estado
negligente, incompetente e elitista?
Por
fim, parece que nos aproximamos de algum questionamento sobre tudo isso que nos
faz ter medo. A ação do Estado é medíocre e isso é fato! Por quê? Porque
deveria trabalhar pela sociedade como um todo e não atacar nas favelas, onde o
povo já convive com a exclusão social, enquanto passa a mão na cabecinha dos
detentores do poder econômico e, conseqüentemente, do poder político. Cada vez
mais percebemos: o Brasil jamais será um país de todos.
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