sexta-feira, 22 de julho de 2022

Saudades da minha vila.


         
          Naquela longínqua década de 80 do século passado era de extremo gozo jogar futebol de rua em uma Jaraguá de chão batido, rodeada de casas humildes e bastante verde enfeitando o entorno. Não há como esquecer aquela praça “da Encol” com seu açude no mesmo local onde hoje existe um cachorródromo. E as goleiras no meio do mato alto, onde um círculo de areia esburacado demarcava a jurisdição daquele velho campo de futebol? 

Em minha memória, vivo como se fosse hoje aquelas gostosas lembranças de infância muito bem vivida. Os acontecimentos daquela época já não ocorrem mais, e nada tem de evolucionismo nisso! Muito, antes, pelo contrário! 

O bairro Bela Vista, atualmente habitado e frequentado por pessoas extremamente materialistas (Que vivem do luxo e da ostentação!), já foi uma vila. A rua Jaraguá, que dava acesso à parte de cima da praça Carlos Simão Arnt já teve lá o seu chão empoeirado e os seus casebres protegidos por cães “vira – latas” que não tinham o menor receio de se botar em qualquer pessoa que ousasse a passar pela frente do seu território de proteção. 

Naquela época, era possível juntar um bando de crianças inocentes para brincar na rua sob os olhares curiosos e lábios fofoqueiros da vizinhança. Muitos moradores sentavam – se na frente de suas humildes residências para ficar jogando conversa fora até o momento de preparar o jantar. Enquanto isso, a pirralhada disparava para se esconder ou para simplesmente correr atrás da bolinha de tênis nos jogos de taco. Este último caso, era o famoso e inesquecível “Vai cavalo!” 

Porém, o tempo foi passando enquanto as engenhocas da contemporaneidade fizeram com que as ruas ficassem desabitadas. Hoje, é mais fácil jogar um game qualquer, desafiando a máquina, do que tirar um “descordar” para ver quem começa escolhendo os jogadores para compor as equipes que iam se confrontar no futebol! 

Nos dias atuais, jamais encontraremos crianças jogando taco com latas de azeite no meio da rua Jaraguá! Até porque, as pessoas que residem no bairro Bela Vista de hoje vivem do desprezo pela rua. São personagens que ganham a vida destruindo a natureza como forma de acumular cada vez mais riquezas através da construção de grandes empreendimentos imobiliários e, de quebra, dar aquela força para acelerar a destruição do planeta.  

Quantas saudades da minha vila!  

São pouquíssimas as casas que ainda resistem aos frequentes ataques da especulação imobiliária e ao grande assédio das aves de rapina que são as grandes construtoras. Existem prédios luxuosos por todo o lado. Basta andar poucos metros para sentir o forte cheiro da “selva de concreto e aço”, como diria o grande Mano Brown. Neste contexto, o que mais me deixa triste é que não existe mais alma naquele bairro; é forte o odor de ganância e de pessoas arrogantes por encontrar a “verdadeira” felicidade nas suas posses, nos seus bens materiais.  

O bar do seu Manoel há muito deixa saudades; as compras devidamente anotadas nos invólucros que outrora serviam para enrolar pacotes de cigarro. Praticamente não havia calculadora naquela época, tudo era na caneta! E as festas de São João? Bah, sempre acontecia com a fogueira montada bem no centro da rua. Tudo isso acabou, faz tempo! A vizinhança já não toma mais quentão, nem o saboreia aquele valoroso chimarrão; já não socializa mais. 

Em síntese, menos de 40 anos separam os relatos deste texto com a vida atual. Assim, muitas coisas mudaram e continuam mudando de forma cada vez mais acelerada. As pessoas materializam os seus sentimentos; a natureza tem sido cada vez mais exterminada pela ganância de pessoas infelizes que ostentam um coração petrificado pelo dinheiro. A vida ganhou outro sentido, de desvalorização, de apequenamento. Tudo isso é muito triste, pra não dizer mesquinho! 

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