Uma Porto Alegre atual.
Após a aula, Antônio chegara em casa
ansioso. Desejava esperar a hora do jantar, onde toda a família estaria
reunida, para contar sobre a peça que criara para apresentar no evento de
Teatro organizado pela sua escola de nível fundamental. Quanto mais o tempo
passava, mais o garoto se agitava, beliscando salgados e caminhando de um lado
para outro na sala de estar.
Chegado o grande momento, a família
postada para o jantar, só faltava o Antônio, que àquela altura já estaria
dormindo. Então, de forma carinhosa e afetuosa, sua mãe, dona Odiva, se
aproximou do leito:
_ Filho, o jantar está servido, vamos
comer!
De pronto, Antônio levantou da cama,
calçou suas pantufas em forma de tigre, apanhou o seu diário de capa dura e
correu para a mesa de jantar. Apesar de ter sido acordado de um sono profundo,
estava feliz: chegara o momento mais esperado do dia!
Era uma mesa retangular, onde os pais
se sentavam nas pontas e Antônio e seu irmão Danilo se acomodavam nas laterais,
frente a frente. Seu Ricardo, após degustar um delicioso pedaço de carne de
panela, largou o garfo sobre o guardanapo e dirigiu-se ao filho Antônio:
_ Pois bem, filho, querias nos contar
sobre a peça que escreveu para a disciplina de Teatro da escola; por favor,
fale!
_ Tudo bem, papai: espero que gostem!
_ Trata-se de uma Porto Alegre imperial
e absolutista, onde os órgãos de segurança faziam de tudo para agradar o rei,
menos segurança! Havia homens armados e carregando espadas, balançando seus
corpos fardados sobre fortes cavalos agitados!
Após tomar um gole de suco, seguiu o
jovem com sua história:
_ Em vários pontos desta Porto Alegre,
não há homens á cavalo; mas, sim, assaltos, brigas e pavor público frente aos
riscos que se corre ao transitar pelas ruas. No entanto, era uma cidade que
possuía poder decisório de cunho tirânico, não com os marginais ou criminosos
em potencial, mas com pessoas que ocupam as ruas e os lugares públicos para se
divertir, trocar boas conversas e curtir a cidade.
Chegada a parte mais esperada, Antônio
levantou o tom de voz sob os olhares atentos da família:
_ Em um bairro boêmio da cidade
surgiram aqueles cavalos, que não estavam garantindo a segurança; muito pelo
contrário, ofereciam correria, repressão e disseminavam o pânico e a violência!
Aquelas espadas bizarras que eu só tinha visto em filmes que retratavam
períodos antigos da história estavam lá, em punho, acertando com violência quem
estava tomando um copo de cerveja clamando por "calma"!
Após alguns minutos, Antônio se
encaminha para o final do seu resumo:
_ Por fim, era uma cidade tirânica,
onde o público estava sendo cerceado dos seus direitos mínimos. O rei mandava e
as forças repressivas obedeciam cegamente como verdadeiros animais exercendo
seus instintos primitivos! As elites mantinham o controle da situação,
oferecendo migalhas aos tiranos e se apropriando da cidade. Os guardas
repressores não levantavam espadas, atiravam bombas de gás ou agrediam as
pessoas com cacetetes para garantir a segurança de alguém; mas, sim, para
preservar interesses obscuros, contraditórios e antipopulares. Resumidamente,
essa é a história que vou apresentar, por meio de uma peça teatral, na escola!
Fascinada com a exposição do filho, a
mãe, após ouvir atentamente o conteúdo a ser aplicado na peça, largou a taça de
vinho - que já estava vazia - sobre a toalha estampada da mesa:
_ E como há de se chamar essa magnífica
peça?
Logo, obteve a resposta:
_ Uma Porto Alegre atual!
Triste realidade
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