quarta-feira, 19 de julho de 2023

Uma Porto Alegre atual.

Uma Porto Alegre atual.
 

Após a aula, Antônio chegara em casa ansioso. Desejava esperar a hora do jantar, onde toda a família estaria reunida, para contar sobre a peça que criara para apresentar no evento de Teatro organizado pela sua escola de nível fundamental. Quanto mais o tempo passava, mais o garoto se agitava, beliscando salgados e caminhando de um lado para outro na sala de estar.

Chegado o grande momento, a família postada para o jantar, só faltava o Antônio, que àquela altura já estaria dormindo. Então, de forma carinhosa e afetuosa, sua mãe, dona Odiva, se aproximou do leito:

_ Filho, o jantar está servido, vamos comer!

De pronto, Antônio levantou da cama, calçou suas pantufas em forma de tigre, apanhou o seu diário de capa dura e correu para a mesa de jantar. Apesar de ter sido acordado de um sono profundo, estava feliz: chegara o momento mais esperado do dia!

Era uma mesa retangular, onde os pais se sentavam nas pontas e Antônio e seu irmão Danilo se acomodavam nas laterais, frente a frente. Seu Ricardo, após degustar um delicioso pedaço de carne de panela, largou o garfo sobre o guardanapo e dirigiu-se ao filho Antônio:

_ Pois bem, filho, querias nos contar sobre a peça que escreveu para a disciplina de Teatro da escola; por favor, fale!

_ Tudo bem, papai: espero que gostem!

_ Trata-se de uma Porto Alegre imperial e absolutista, onde os órgãos de segurança faziam de tudo para agradar o rei, menos segurança! Havia homens armados e carregando espadas, balançando seus corpos fardados sobre fortes cavalos agitados!

Após tomar um gole de suco, seguiu o jovem com sua história:

_ Em vários pontos desta Porto Alegre, não há homens á cavalo; mas, sim, assaltos, brigas e pavor público frente aos riscos que se corre ao transitar pelas ruas. No entanto, era uma cidade que possuía poder decisório de cunho tirânico, não com os marginais ou criminosos em potencial, mas com pessoas que ocupam as ruas e os lugares públicos para se divertir, trocar boas conversas e curtir a cidade.

Chegada a parte mais esperada, Antônio levantou o tom de voz sob os olhares atentos da família:

_ Em um bairro boêmio da cidade surgiram aqueles cavalos, que não estavam garantindo a segurança; muito pelo contrário, ofereciam correria, repressão e disseminavam o pânico e a violência! Aquelas espadas bizarras que eu só tinha visto em filmes que retratavam períodos antigos da história estavam lá, em punho, acertando com violência quem estava tomando um copo de cerveja clamando por "calma"!

Após alguns minutos, Antônio se encaminha para o final do seu resumo:

_ Por fim, era uma cidade tirânica, onde o público estava sendo cerceado dos seus direitos mínimos. O rei mandava e as forças repressivas obedeciam cegamente como verdadeiros animais exercendo seus instintos primitivos! As elites mantinham o controle da situação, oferecendo migalhas aos tiranos e se apropriando da cidade. Os guardas repressores não levantavam espadas, atiravam bombas de gás ou agrediam as pessoas com cacetetes para garantir a segurança de alguém; mas, sim, para preservar interesses obscuros, contraditórios e antipopulares. Resumidamente, essa é a história que vou apresentar, por meio de uma peça teatral, na escola!

Fascinada com a exposição do filho, a mãe, após ouvir atentamente o conteúdo a ser aplicado na peça, largou a taça de vinho - que já estava vazia - sobre a toalha estampada da mesa:

_ E como há de se chamar essa magnífica peça?

Logo, obteve a resposta:

_ Uma Porto Alegre atual!

 

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